domingo, 20 de fevereiro de 2011

Direitos de autor.

Desde há muito tempo mantenho discussão com amigos sobre a questão dos direitos de autor. Em causa na minha reflexão está a questão da legalidade ou não de cópia de obras criadas, neste particular respeitante a música e livros.  E logo aparece o papel actual da Internet, qual veiculo criminoso que prejudica toda a criação artística e onde os cidadãos também criminosamente partilham cópias indiscriminadas de ficheiros pdf e mp3.

Sendo os ataques protagonizados principalmente por empresas discográficas e editores livreiros, defensores da moral quando relacionada com o lucro fácil, estranha-me que a acusação possa partir também de artistas e pseudo tais. Então a Internet serve-lhe somente para promoção gratuita no inicio de carreira? Que outra forma teriam os “Zé Cabra” de se darem a conhecer?

Anualmente despendo de uma quantia considerável de euros na compra de cd´s e livros. Muito do que compro a nível musical conheci pela Internet, de forma que lojas on-line como a Amazon ou sites como o Ebay são os meus principais fornecedores. A nível mundial o mercado de reedições de trabalhos de bandas que já acabaram há mais de vinte anos cresce exponencialmente todos os anos. Graças a quem? Revistas especializadas? Programas radiofónicos de culto? Não me parece…

No que respeita ao mercado livreiro, qualquer estudante universitário ou simples individuo interessado em matérias mais específicas, mais além das Fúrias Divinas e quejandos, sabe da dificuldade em encontrar títulos, alguns deles esgotados há dezenas de anos. Outra solução existirá que não a cópia?

As leis que regulam estas matérias são a dos direitos de autor e a dos direitos conexos. Lê-las e tentar compreendê-las como lógicas é um desafio hilariante.

Encontrei há dias um blogue que trata também esta matéria e onde está um vídeo do escritor Neil Gaiman com posição específica sobre tal. Entendo que qualquer criação artística deve ser difundida e partilhada. Senão era criada somente para consumo próprio do seu autor. Os novos tempos exigem adaptação de todos os agentes e a exemplo disso conhecemos por exemplo a posição que a banda Radiohead adoptou há uns anos.

Poderia aqui expressar um rol de argumentos sobre a minha posição. Não é esse o meu objectivo. Para mim a Internet serve para conhecer, descarregar, copiar, partilhar e comprar sempre… se gostar.

Como não plagio nada, isso sim é criminoso e desonesto, aqui deixo o blogue que me ajudou à inspiração deste escrito. É seu autor o professor Ludwig Krippahl e nele podemos encontrar também um vídeo num post do dia 13 do corrente que reproduz um discurso sintomático do Presidente da Academia de las Artes y las Ciencias Cinematográficas de España: http://ktreta.blogspot.com/ .

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Morrer na Rinchoa em 2011


Nove anos insepulta na casa onde morreu, no Grande Subúrbio anónimo e cruel, rodeada de vizinhos que nada estranharam.Vizinhos mas forasteiros, casas para dormir não para viver, condóminos da indiferença de costas voltadas para as portas da vida. Todos culpados todos inocentes, quem manda morrer em silêncio e para mais no quarto andar.Um nome: Augusta. Augusta, insepulta na pirâmide onde o Anúbis suburbano a deixou cativa, condenada pelo crime de ser velha, e pobre, e doente, agravantes fatais no processo- crime da sobrevivência.

Havia um sobrinho que nunca arrombou a porta pois faltava a ordem do Tribunal , porta é porta, e depois havia que pagar uma nova, quem é vivo há-de aparecer, ainda se houver herança atrás da porta...

Havia a nefanda segurança social que nunca estranhou, hordas de velhos mendigando dignidade,mais um papel, apenas um número, um código postal na Rinchoa,que importa, a morte resolverá.

Havia um polícia grotesco arrotando alarvidades do alto da pungente cretinice da farda sagrada que tudo permite, petulante.Se estiver morta cheira mal , se cheira mal dos pés e tem mau hálito está morto, os Watson da Rinchoa nunca se enganam debaixo da farda protectora.

Havia um cão cúmplice na vida e parceiro na morte, e um periquito à janela no sarcófago do quarto andar, todos orfãos da solidariedade para a qual só há tempo em chamadas de valor acrescentado que aliviem consciências apressadas, dois minutos que há que ir ver a novela.

Nove anos. Nove anos de chão frio, invernos, verões, entradas e saídas, a campaínha silenciosa, no correio só facturas.Ninguém a saber daquele número de contribuinte com pessoa dentro.

Apenas e retumbante, o Grande Urubu, o Fisco predador.

A penhorar.1400 euros, crime de lesa pátria, a justiça com a habitual injustiça.

Aí foi lembrada, com juros de mora e sem aviso de recepção ,com a canibal comitiva do necrófito oficial de diligências, do boçal policia e uma nova dona que nunca viu a casa mas alarve comprou.

1400 euros.

1400 euros, quanto foi preciso para que se levantassem celulíticos traseiros a saber se os números tinham nomes, lágrimas, dores, risos,para predadores e majestáticos logo os confiscar, os bens primeiro, a dignidade depois.

É Portugal e é 2011.

Fernando Morais Gomes