terça-feira, 27 de setembro de 2011

Manifestações Artísticas em Sintra: Yes It Can!

Quem por Sintra andou nas noites deste ultimo fim-de-semana, deparou-se com um conjunto de iniciativas artísticas nada habituais nessa vila. E que espectáculo! Tratou-se de um conjunto de projecções multimédia que decoraram as fachadas de vários edifícios, com o ponto alto nos Paços do Concelho e Palácio Nacional.

Tal iniciativa trouxe à rua milhares de pessoas nos três dias de duração. E a magnificência traduziu-se não só no carácter estético produzido pelos artistas, mas também na coerência descritiva e integrante das diversas peças ao longo do percurso. Começando no Café Saudade, onde a instalação convidava à participação dos espectadores e acabando no Paço Real onde um poema de Garrett era interpretado por Ruy de Carvalho com a história do Palácio à mistura, pelo meio ainda se via o edifício dos Paços do Concelho transformado em caixa de música, ou o Museu do Brinquedo em máquina de flippers. E ainda o edifício do Turismo e Igreja abertos.

De facto, evento a tal escala só mesmo habitualmente em lugares com outra dimensão. O próprio painel de sponsors falava por si…  

Contudo, sempre os mesmos problemas estruturais teimam em persistir. Ora, a inexistente organização do trânsito, apesar da presença das duas (?!?!) forças policiais, GNR e Policia Municipal, originou a situação caricata de uma autêntica salada russa composta por carros, pessoas e Arte. Pessoalmente acho que o problema estrutural começa a conferir estupidez, a avaliar por comentários de alguns “agentes” de autoridade.

Serve esta exposição também para trazer aqui à reflexão três ideias:  

1.       A CRISE não significa amorfia das sociedades. Diversas ideias, projectos, podem ser postos em prática. O financiamento é sempre um problema, é certo. Mas as boas iniciativas têm sempre valor. Estou em crer que os diversos patrocinadores não deram por mal empregue a associação do seu nome/marca a esta iniciativa.

2.       Nem toda a cultura tem que ser erudita. Nem toda a Arte tem que ser convencional. Grosso modo, os consumidores de arte, seja de rua ou num museu, num sentido lato não conseguem desenvolver um sentido crítico aprofundado daquilo que observam. Mas mesmo sendo certo que os milhares de pessoas ali presentes foram impulsionados pela divulgação televisiva, todas as iniciativas artísticas coerentemente concebidas são poucas para potenciar o nível cultural da população. Quando outros estímulos não existem, estes são essenciais.

3.       Estamos habituados a que as grandes iniciativas parem pouco em Sintra. Regra geral faz-se um ano ou dois e depois acaba, esquece-se. Quanto a mim um evento destas características deveria passar a continuo. Uma vez por ano Sintra teria o seu evento. Não podem ser referências os circos das “feiras medievais”. Quem sabe associado até ao Festival de Sintra. Julgo que o sucesso passou em muito pelo profissionalismo das diversas entidades que o organizaram e acima de tudo o souberam promover num curto espaço de tempo.  E costuma ser a promoção e a divulgação, os principais problemas dos eventos afectos à organização camarária como o, em tempos famoso, Festival de Sintra. Uma boa oportunidade para se rever os canais de comunicação.

Uma nota final acerca da projecção no Palácio da Vila. Apesar das imposições do novo acordo ortográfico, o Garrett do poeta escreve-se assim mesmo, com dois tês…




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Património.

Muito se tem escrito sobre os atentados de que o nosso património material é alvo com frequência, principalmente a nível local, que por ser mais próximo nos solicita imediatas reacções, mas também a nível nacional, neste âmbito enquadrado já em especificas teias de interesses.

Ora, no que a Sintra diz respeito, e em plena época alta turística, serve esta para evidenciar problemas antigos, eternamente à espera de intervenção integrada e adequada, que os sucessivos executivos camarários teimam em votar ao esquecimento, refugiando-se constantemente em discursos patéticos envolvendo misticismos e em slogans próprios de indivíduos com nível cultural a roçar a mediocridade.

Mas não só de património material é composto os lugares. Outro existe – o imaterial – que se deve revestir da mesma importância do primeiro e por isso merecedor de igual protecção.

Por isso hoje abordo uma questão merecedora de reflexão.

Da salvaguarda do património deveria pertencer a protecção de denominações ou conceitos afectos ao espírito dos lugares. Por exemplo, em Sintra, é gritante a quantidade de vezes que é usada a expressão “Monte da Lua” como nome de qualquer estabelecimento comercial, ou a evocação de figuras como “D. Fernando II”, para denominação de espaços completamente descabidos de coerência e de oportunidade. Há dias tomei conhecimento de uma empresa de construções com o nome de “Edla”. Resta saber se faz menção à figura da Condessa tão ligada ao tal património material sintrense.

Creio que só no aspecto meramente teórico possa abordar esta questão, pois não espero que os “responsáveis” que deixam transformar edifícios históricos e identitários de lugares em ninhos de ratos, consigam alcançar a pertinência desta reflexão.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Reorganização.

Em virtude de os amigos Fernando Morais Gomes, André Nóbrega e João Afonso Aguiar possuirem já blogues próprios, decidiu-se que a partir de hoje este ficará somente ligado à minha autoria.


Assim, poder-se-á encontrar escritos desses autores em:

http://cafecomadocante.blogs.sapo.pt/

http://reinodeklingsor.blogspot.com/

http://caracterdograndeplano.blogspot.com/

http://contestavel.blogs.sapo.pt/

domingo, 26 de junho de 2011

To Do ou To Be.

Há tempos no meio de umas pesquisas para um trabalho de investigação deparei-me com uma posição tida por alguns investigadores (antropólogos, sociólogos, etc.) no que concerne ao estudo das culturas. Concebem eles, a existência de dois tipos de grupos culturais: a cultura do to do e a cultura do to be.

Grosso modo, ou indivíduos pertencentes à primeira caracterizam-se por se definirem pelo trabalho que desenvolvem, o seu percurso de vida é explicado pelo que têm vindo a fazer ao longo da mesma e têm uma visão mecanicista da sociedade. Normalmente resolvem os seus problemas de forma muito directa, linear.

Já os segundos definem-se por tipos de relacionamento que estabelecem e por identidades geográficas. Apresentam-se como pertencentes a tribos, famílias ou comunidades onde vivem. O seu percurso de vida depende da acção dos líderes dessa comunidade, sejam religiosos, políticos, familiares ou de outro tipo. Nesta forma cultural os problemas são resolvidos de forma não linear, circular se quisermos, na medida em que a decisão tem que percorrer vários pontos.

Embora de forma singela e directa, penso que podemos arrumar toda a Humanidade nestas duas “gavetas”.

Também não será difícil de aceitar que as sociedades que temos como mais desenvolvidas assentam na forma to do. Consequentemente as outras, incluindo a nossa, circunscrita a este rectângulo de noventa mil km2, baseiam-se fortemente nas tradições, nas linhagens ou nos lugares.

Somos todos de boas famílias…

Ora, nos tempos que correm, dominados pelas diversas crises, o sentimento constante é o desejo de sermos como os outros: em tal parte é que se vive bem; na outra isto não se passaria; etc., etc.

Mas o que é que de facto cada um quer? Ser como os mais evoluídos quando ainda se age de forma retrógrada, desperdiçando toda uma vida em função de um status virtual? Será que não se percebe que é impossível ser-se uma identidade livre quando está acorrentada ainda a um conjunto de laços, disciplinas e costumes já ultrapassados?

Nunca uma mudança se concretiza quando se tem que satisfazer interesses de clãs. Os dos nossos dias vão desde os grupos de pressão às “mais importantes” descendências de nomes.

O indivíduo é único e constrói a sua existência de acordo com os seus interesses e os seus anseios. Acima dele só está o interesse da comunidade geral, personificada no Estado, na Nação ou na própria Humanidade. Nunca deve a sua acção satisfazer meramente o interesse de uma entidade intermédia, seja religiosa, politica, ideológica ou a simples família.

(Sinceramente nunca entendi o conceito de família. Desde os almoços domingueiros aos jantares natalícios, a panóplia de tios, sobrinhos, primos (em número alargado de grau), afilhados (?!?!), não são mais do que, naquele momento, um conjunto de identidades perdidas em torno de um (ou mais) pater.

Há que, no meu entender, mudar de paradigma. Como tudo na vida a mudança não acontece simplesmente, não cai do céu. Tem que se fazer para que se concretize. E cada um é importante na medida em que é único enquanto ser existencial. Não pode estar subordinado a outras existências, e assim a mudança far-se-á.

Quando se é de uma família (termo várias vezes pronunciado também com a significância de lobby) ocorrem-me duas ideias. As famílias aristocráticas da época medieval, ou as dos “Padrinhos” das organizações mafiosas.

Creio que as existentes nos nossos dias são uma mistura dessas tais… E nada fazem por (ou para).

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os Homens dos Cornos.

“Está a pôr-me os cornos”, expressão referida sempre que um membro de um casal sente estar a ser traído pelo seu parceiro. O enganado, continuando em tal situação, passa obrigatoriamente a levar uma vida de corno.

Ontem à noite, após comunicação feita ao País pelo primeiro-ministro sobre as medidas que não figuravam no acordo inicial com a troika internacional, a RTP organizou um pequeno debate com quatro personalidades entendidas em economia. Duas delas pertencem aos dois principais partidos políticos. Do lado do PS, Manuel Pinho, ex-ministro da economia e protagonista da cena dos cornos na Assembleia da República, e por parte do PSD um candidato a ministro e catedrático, Nogueira Leite.

Ironia do destino, tal debate realizou-se no final de mais um confronto Barcelona-Real Madrid, de onde a equipa merengue saiu outra vez com uns grandes cornos…

O debate decorria sem nada de interessante a registar até que, caso raro nos diálogos jornalistas/políticos, José Rodrigues dos Santos resolve chamar à responsabilidade os dois políticos presentes com algo semelhante a «Meus senhores, estamos fartos de desculpas e troca de acusações; quero saber concretamente quais as responsabilidades que os dois maiores partidos políticos assumem no estado a que chegou o País».

De facto, coisa rara no jornalismo português. Nunca consegui compreender se por medo ou devido a algum acordo prévio, tal atitude não é tomada.

Visivelmente embaraçado, Manuel Pinho começou a falar na crise internacional, a comparar Portugal com outros países europeus, numa atabalhoada mistura de ideias e sempre a escusar uma resposta concreta. À quarta e última insistência veemente de JRS, que parecia já assolado por uma qualquer fúria divina, eis que o ex-ministro, o tal dos cornos, refere que a responsabilidade da crise da dívida deve-se ao chumbo da oposição do projecto da Educação do governo… Atónito, JRS ainda questionou se era essa então a única responsabilidade que um governo de 6 anos assumia, ao que Pinho respondera que sim.

Já de rastos, JRS passa a palavra a Nogueira Leite que dentro da mesma estratégia de fuga a enorme inconveniente, afirma que a maior responsabilidade do partido laranja reside no facto de em 6 anos nunca se ter conseguido afirmar como alternativa de poder. Pois, digo eu, mas foram-no antes e também contribuíram, embora com influência inquestionavelmente inferior para tal.

Mais do que a constatação óbvia da mediocridade da maioria da classe política, que nem uma explicação capaz consegue dar a quem a elege, tal deterioração assume um alcance gigantesco quando a incompetência começa a configurar crime e influencia negativa e irreversivelmente (espera-se que não) a vida dos cidadãos.

Julgo que nos resta o consolo de sabermos de antemão o que temos e o que podemos esperar. Como tal nunca nos chegaremos a sentir completamente cornos e a levar a tal vida de corno. Pois neste caso, na situação de enganados, nunca seremos os últimos a saber…

domingo, 6 de março de 2011

Homens da Luta: Ironia ou Protesto?

O grupo comediante “Homens da Luta” foi o vencedor da última edição do Festival RTP da Canção, evento que ano após ano se tem vindo a tornar cada vez mais deprimente, promotor de “talentos” musicais paupérrimos, nada representantes da música que por cá se faz.

Os vencedores foram encontrados pela votação do público que assistia ao programa e nada de extraordinário seria, e até compreensível pela quadra carnavalesca, se não fosse esse agrupamento representar o País no encontro internacional. Mesmo tendo concorrido em jeito de galhofa, longe estariam Falancio e companhia de imaginar este final…

O povo, dedicado a quebrar records do Guiness nas actividades mais descabidas que se possam imaginar, tem vindo nos últimos tempos a satirizar situações que se revestem de maior ou menor importância. Recentemente foram as eleições presidenciais onde o candidato que se auto-dedicou à sátira recebeu um número considerável de votos. Mais distante, um ditador foi considerado a personagem mais relevante da História portuguesa.   Agora toda a Europa vai conhecer a faceta mais hilariante do nosso povo, mesmo depois de conviverem com a representação do engenheiro (também foi a um Domingo…) Sócrates e seus pares.

Contudo, uma reflexão mais séria se impõe. Cada povo tem a sua maneira de protestar e num País de pacatos costumes onde nas mais intensas manifestações populares nem uma pedra é lançada, opta-se pelo protesto ridicularizando situações, mesmo que seja de todo desaconselhável.

É uma forma, veremos no futuro o que produz. Uma coisa já sabemos: imaginação não nos falta.

A propósito ainda pensei: Se o Professor Pardal fosse vivo poderia vir a ser Ministro da Ciência? Não, pois seria cidadão americano…

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Direitos de autor.

Desde há muito tempo mantenho discussão com amigos sobre a questão dos direitos de autor. Em causa na minha reflexão está a questão da legalidade ou não de cópia de obras criadas, neste particular respeitante a música e livros.  E logo aparece o papel actual da Internet, qual veiculo criminoso que prejudica toda a criação artística e onde os cidadãos também criminosamente partilham cópias indiscriminadas de ficheiros pdf e mp3.

Sendo os ataques protagonizados principalmente por empresas discográficas e editores livreiros, defensores da moral quando relacionada com o lucro fácil, estranha-me que a acusação possa partir também de artistas e pseudo tais. Então a Internet serve-lhe somente para promoção gratuita no inicio de carreira? Que outra forma teriam os “Zé Cabra” de se darem a conhecer?

Anualmente despendo de uma quantia considerável de euros na compra de cd´s e livros. Muito do que compro a nível musical conheci pela Internet, de forma que lojas on-line como a Amazon ou sites como o Ebay são os meus principais fornecedores. A nível mundial o mercado de reedições de trabalhos de bandas que já acabaram há mais de vinte anos cresce exponencialmente todos os anos. Graças a quem? Revistas especializadas? Programas radiofónicos de culto? Não me parece…

No que respeita ao mercado livreiro, qualquer estudante universitário ou simples individuo interessado em matérias mais específicas, mais além das Fúrias Divinas e quejandos, sabe da dificuldade em encontrar títulos, alguns deles esgotados há dezenas de anos. Outra solução existirá que não a cópia?

As leis que regulam estas matérias são a dos direitos de autor e a dos direitos conexos. Lê-las e tentar compreendê-las como lógicas é um desafio hilariante.

Encontrei há dias um blogue que trata também esta matéria e onde está um vídeo do escritor Neil Gaiman com posição específica sobre tal. Entendo que qualquer criação artística deve ser difundida e partilhada. Senão era criada somente para consumo próprio do seu autor. Os novos tempos exigem adaptação de todos os agentes e a exemplo disso conhecemos por exemplo a posição que a banda Radiohead adoptou há uns anos.

Poderia aqui expressar um rol de argumentos sobre a minha posição. Não é esse o meu objectivo. Para mim a Internet serve para conhecer, descarregar, copiar, partilhar e comprar sempre… se gostar.

Como não plagio nada, isso sim é criminoso e desonesto, aqui deixo o blogue que me ajudou à inspiração deste escrito. É seu autor o professor Ludwig Krippahl e nele podemos encontrar também um vídeo num post do dia 13 do corrente que reproduz um discurso sintomático do Presidente da Academia de las Artes y las Ciencias Cinematográficas de España: http://ktreta.blogspot.com/ .