domingo, 20 de fevereiro de 2011
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Morrer na Rinchoa em 2011

Havia um sobrinho que nunca arrombou a porta pois faltava a ordem do Tribunal , porta é porta, e depois havia que pagar uma nova, quem é vivo há-de aparecer, ainda se houver herança atrás da porta...
Havia a nefanda segurança social que nunca estranhou, hordas de velhos mendigando dignidade,mais um papel, apenas um número, um código postal na Rinchoa,que importa, a morte resolverá.
Havia um polícia grotesco arrotando alarvidades do alto da pungente cretinice da farda sagrada que tudo permite, petulante.Se estiver morta cheira mal , se cheira mal dos pés e tem mau hálito está morto, os Watson da Rinchoa nunca se enganam debaixo da farda protectora.
Havia um cão cúmplice na vida e parceiro na morte, e um periquito à janela no sarcófago do quarto andar, todos orfãos da solidariedade para a qual só há tempo em chamadas de valor acrescentado que aliviem consciências apressadas, dois minutos que há que ir ver a novela.
Nove anos. Nove anos de chão frio, invernos, verões, entradas e saídas, a campaínha silenciosa, no correio só facturas.Ninguém a saber daquele número de contribuinte com pessoa dentro.
Apenas e retumbante, o Grande Urubu, o Fisco predador.
A penhorar.1400 euros, crime de lesa pátria, a justiça com a habitual injustiça.
Aí foi lembrada, com juros de mora e sem aviso de recepção ,com a canibal comitiva do necrófito oficial de diligências, do boçal policia e uma nova dona que nunca viu a casa mas alarve comprou.
1400 euros.
1400 euros, quanto foi preciso para que se levantassem celulíticos traseiros a saber se os números tinham nomes, lágrimas, dores, risos,para predadores e majestáticos logo os confiscar, os bens primeiro, a dignidade depois.
É Portugal e é 2011.
Fernando Morais Gomes