Há exactamente dez anos estávamos por esta altura a prepararmo-nos não só para entrar num novo ano, mas também num novo século e num novo milénio. As expectativas eram especiais e mesmos os mais cépticos em que uma nova época começada por “2” viesse a trazer algo de muito diferente, sentiam alguma curiosidade.
2001 representava até então apenas o nome de uma discoteca “mítica” que proporcionava alguns momentos de nostalgia e de outras coisas bem diferentes…
Terceiro milénio. Século XXI. Os investigadores tendem a balizar épocas históricas como referências para estudo. Ainda que vivamos actualmente na Idade Contemporânea, iniciada na Revolução Francesa, muitos decidem denominar a actualidade simplesmente como século XXI.
E se no inicio nos despertava algum sentimento de esperança num futuro melhor, devido às características sociais que o mundo moderno apresenta como a Globalização ou devido aos níveis quase impensáveis que atingiram a investigação cientifica e as novas tecnologias, dez anos volvidos constatamos que se não estamos pior, pelo menos nada mudou.
De facto, parece que Fukuyama tinha razão quando defendeu que a História tinha acabado com a queda do muro de Berlim. Triunfou o liberalismo (pois “capitalismo” é um termo demasiado marxista), as sociedades perdem valores, vence a ganância e a especulação, os anseios das populações esfumam-se rapidamente. A hipermodernidade de Lipovetsky faz todo o sentido.
Em vez da guerra fria temos uma luta pelo domínio global travada por americanos e chineses com europeus meio atónitos pelo meio. Em vez de um muro físico a limitar as nossas acções e a nossa evolução temos mecanismos económicos e financeiros que nos fazem depender da boa vontade de uns quantos burocratas idiotas que se justificam com crises, ratings e dívidas soberanas. Mais do que um conflito entre ideologias ou raças, a luta hoje protagoniza-se entre quem governa e quem é governado.
Por cá, como País pequeno e periférico, eternamente dependente do que o rodeia (singela apresentação sempre feita pelos abundantes macambúzios e limitados “timoneiros” da Nação), teria que ser a situação ainda pior. Membros de um projecto europeu mais do que falido, vemos a nossa vida e as nossas expectativas recuarem para estágios de há vinte anos. É sobejamente conhecida a conjuntura, como tal não merece a mínima referência.
E dez anos passaram tão depressa. Parece que ainda ontem estávamos a virar o século, a entrar na tal era especial. E já vamos para outros dez. Mas agora já não há desculpa para ilusões. Logo o primeiro ano, 2011, será bem pior por tudo o que é conhecido. E possivelmente não fica por aí, dizem os entendidos. Como tal resta-nos a capacidade de nos adaptarmos o melhor possível a tal realidade ainda que estejamos conscientes de que pouco fizemos para merecê-la.
Ainda existem bons livros, boa musica, boa Arte e bons amigos. Como tal, pelo que depender de mim, daqui a um ano não estarei pior…
Ricardo Duarte
2 comentários:
O Fukuyama não preveu apenas a inevitabilidade do liberalismo mas também das democracias...
Basta olhar para os países que triunfaram nesta última década com liberalismo, China, Rússia, India e Brasil... e tirar conclusões.
Grande texto. Abraço.
João Afonso
Que revolução possível? Uma nova 'comuna de Paris'? A revolução que Alvin Toffler apontava há mais de 30 anos? A resistência pacífica ao estilo de Gandhi? Encruzilhadas permanentes, cada vez mais prementes.
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