sábado, 1 de janeiro de 2011

Onde param os Amigos de Alex?


2011 é um ano charneira para fazer o balanço da geração flower power que faz agora cinquenta anos despontou, com a quebra das convenções suscitadas pelos Beatles, Byrds, Jim Morrison, Janis Joplin e outros, e a contestação juvenil que começou com a guerra do Vietname e desaguou no Maio de 68 e em Woodstock. Sejamos razoáveis, exijamos o impossível era um slogan que hoje faz muita falta na busca de novos amanhãs sonhados e da sociedade libertária e libertadora .

Cinquenta anos depois, qual o legado desse passado? Umas T-Shirts de Che Guevara, uns vinis dos Rolling Stones, pins de movimentos de esquerda, tudo arrumado no mausoléu da memória para os nossos filhos acharem que curtimos bué mas lhes lixamos o futuro. Já desencantados nos anos oitenta, acomodados no Sistema a frase passou a ser, quem não é revolucionário aos vinte não tem coração, quem é revolucionário aos quarenta não tem cabeça. Hoje os imperialistas dos anos 60 chamam-se mercados, a classe operária parceiros sociais o único movimento colectivista é o do Facebook, paradoxo do individualismo virtual, holograma de opiniões aburguesadas e viradas para cada um, as canções de protesto são óptimas com vodka preta ou um shot na festa do Avante ou no Sudoeste onde até há uns cotas castiços que sabem umas músicas que passam no Conta-me como Foi.

Foi bonita a festa pá, mas o orgasmo colectivo acabou em tuberculose e anemia. Cinquenta anos depois, o que fizemos do Futuro? Ou antes, o que deixámos que não fizessem com ele? Para o bem ou para o mal agradeço o facto de ter vivido e crescido nessa geração, de generosidade, partilha e sonhos. Sim, porque nessa altura, sem liberdade e sem dinheiro, sonhávamos, hoje temos pesadelos acordados e estamos zombies na vida e sem projecto. Pessimismo? Não, reflexivo, apesar de tudo o homem ainda é a medida de todas as coisas.

Um mote para um tema a discutir em 2011. Do rio que tudo arrasta dizem ser violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem…

E agora vou ali reler o meu Antonin Artaud e tomar um gin ao som dum Eric Clapton. Em vinil.

1 comentário:

Apostol disse...

Incendiário aos 18, bombeiro aos 60.... Nós, essa geração de ousadia e sonho, acabámos, na sua maioria burgueses, amolecidos pelas comodidades e facilidades impingidas pelos mercados através de um desenfreado consumismo e facilitismo. Se calhar, falta-nos o frio, esse frio da provação. da ditadura, porque o frio enrija a carne!!!!