quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os Homens dos Cornos.

“Está a pôr-me os cornos”, expressão referida sempre que um membro de um casal sente estar a ser traído pelo seu parceiro. O enganado, continuando em tal situação, passa obrigatoriamente a levar uma vida de corno.

Ontem à noite, após comunicação feita ao País pelo primeiro-ministro sobre as medidas que não figuravam no acordo inicial com a troika internacional, a RTP organizou um pequeno debate com quatro personalidades entendidas em economia. Duas delas pertencem aos dois principais partidos políticos. Do lado do PS, Manuel Pinho, ex-ministro da economia e protagonista da cena dos cornos na Assembleia da República, e por parte do PSD um candidato a ministro e catedrático, Nogueira Leite.

Ironia do destino, tal debate realizou-se no final de mais um confronto Barcelona-Real Madrid, de onde a equipa merengue saiu outra vez com uns grandes cornos…

O debate decorria sem nada de interessante a registar até que, caso raro nos diálogos jornalistas/políticos, José Rodrigues dos Santos resolve chamar à responsabilidade os dois políticos presentes com algo semelhante a «Meus senhores, estamos fartos de desculpas e troca de acusações; quero saber concretamente quais as responsabilidades que os dois maiores partidos políticos assumem no estado a que chegou o País».

De facto, coisa rara no jornalismo português. Nunca consegui compreender se por medo ou devido a algum acordo prévio, tal atitude não é tomada.

Visivelmente embaraçado, Manuel Pinho começou a falar na crise internacional, a comparar Portugal com outros países europeus, numa atabalhoada mistura de ideias e sempre a escusar uma resposta concreta. À quarta e última insistência veemente de JRS, que parecia já assolado por uma qualquer fúria divina, eis que o ex-ministro, o tal dos cornos, refere que a responsabilidade da crise da dívida deve-se ao chumbo da oposição do projecto da Educação do governo… Atónito, JRS ainda questionou se era essa então a única responsabilidade que um governo de 6 anos assumia, ao que Pinho respondera que sim.

Já de rastos, JRS passa a palavra a Nogueira Leite que dentro da mesma estratégia de fuga a enorme inconveniente, afirma que a maior responsabilidade do partido laranja reside no facto de em 6 anos nunca se ter conseguido afirmar como alternativa de poder. Pois, digo eu, mas foram-no antes e também contribuíram, embora com influência inquestionavelmente inferior para tal.

Mais do que a constatação óbvia da mediocridade da maioria da classe política, que nem uma explicação capaz consegue dar a quem a elege, tal deterioração assume um alcance gigantesco quando a incompetência começa a configurar crime e influencia negativa e irreversivelmente (espera-se que não) a vida dos cidadãos.

Julgo que nos resta o consolo de sabermos de antemão o que temos e o que podemos esperar. Como tal nunca nos chegaremos a sentir completamente cornos e a levar a tal vida de corno. Pois neste caso, na situação de enganados, nunca seremos os últimos a saber…