domingo, 26 de junho de 2011

To Do ou To Be.

Há tempos no meio de umas pesquisas para um trabalho de investigação deparei-me com uma posição tida por alguns investigadores (antropólogos, sociólogos, etc.) no que concerne ao estudo das culturas. Concebem eles, a existência de dois tipos de grupos culturais: a cultura do to do e a cultura do to be.

Grosso modo, ou indivíduos pertencentes à primeira caracterizam-se por se definirem pelo trabalho que desenvolvem, o seu percurso de vida é explicado pelo que têm vindo a fazer ao longo da mesma e têm uma visão mecanicista da sociedade. Normalmente resolvem os seus problemas de forma muito directa, linear.

Já os segundos definem-se por tipos de relacionamento que estabelecem e por identidades geográficas. Apresentam-se como pertencentes a tribos, famílias ou comunidades onde vivem. O seu percurso de vida depende da acção dos líderes dessa comunidade, sejam religiosos, políticos, familiares ou de outro tipo. Nesta forma cultural os problemas são resolvidos de forma não linear, circular se quisermos, na medida em que a decisão tem que percorrer vários pontos.

Embora de forma singela e directa, penso que podemos arrumar toda a Humanidade nestas duas “gavetas”.

Também não será difícil de aceitar que as sociedades que temos como mais desenvolvidas assentam na forma to do. Consequentemente as outras, incluindo a nossa, circunscrita a este rectângulo de noventa mil km2, baseiam-se fortemente nas tradições, nas linhagens ou nos lugares.

Somos todos de boas famílias…

Ora, nos tempos que correm, dominados pelas diversas crises, o sentimento constante é o desejo de sermos como os outros: em tal parte é que se vive bem; na outra isto não se passaria; etc., etc.

Mas o que é que de facto cada um quer? Ser como os mais evoluídos quando ainda se age de forma retrógrada, desperdiçando toda uma vida em função de um status virtual? Será que não se percebe que é impossível ser-se uma identidade livre quando está acorrentada ainda a um conjunto de laços, disciplinas e costumes já ultrapassados?

Nunca uma mudança se concretiza quando se tem que satisfazer interesses de clãs. Os dos nossos dias vão desde os grupos de pressão às “mais importantes” descendências de nomes.

O indivíduo é único e constrói a sua existência de acordo com os seus interesses e os seus anseios. Acima dele só está o interesse da comunidade geral, personificada no Estado, na Nação ou na própria Humanidade. Nunca deve a sua acção satisfazer meramente o interesse de uma entidade intermédia, seja religiosa, politica, ideológica ou a simples família.

(Sinceramente nunca entendi o conceito de família. Desde os almoços domingueiros aos jantares natalícios, a panóplia de tios, sobrinhos, primos (em número alargado de grau), afilhados (?!?!), não são mais do que, naquele momento, um conjunto de identidades perdidas em torno de um (ou mais) pater.

Há que, no meu entender, mudar de paradigma. Como tudo na vida a mudança não acontece simplesmente, não cai do céu. Tem que se fazer para que se concretize. E cada um é importante na medida em que é único enquanto ser existencial. Não pode estar subordinado a outras existências, e assim a mudança far-se-á.

Quando se é de uma família (termo várias vezes pronunciado também com a significância de lobby) ocorrem-me duas ideias. As famílias aristocráticas da época medieval, ou as dos “Padrinhos” das organizações mafiosas.

Creio que as existentes nos nossos dias são uma mistura dessas tais… E nada fazem por (ou para).