sábado, 23 de outubro de 2010

O Oeste Longínquo europeu!

Fazem parte da História do nosso País, nas suas origens, lutas constantes entre povos bárbaros que vinham chegando ao nosso território, lutas essas travadas em nome da fixação desejada. Eles foram Alanos, Vândalos, Suevos e Visigodos, estes que por serem os mais fortes subtraíram todos os outros.

Eram a Lusitânia e a Calécia o último e longínquo reduto do poderoso Império Romano que por ser o mais pobre, se tornava o local para onde os invasores bárbaros eram “encaminhados”. Ao que se consta, embora pobres eram sítios tranquilos ainda que sob o domínio dos Imperadores, com razoável margem de evolução no futuro. Talvez por isso tenha despertado a cobiça de berberes muçulmanos em 711 originando uma forte invasão proveniente de África e acabando com o sossego reinante.

Também no Velho Oeste americano, a rotina e o sossego só são quebrados quando um grupo de jogadores de poker se lembra de partir o saloon ou quando o xerife aparece de rompante aos tiros porque descobriu um novo bandido.

Por cá outras notícias preenchem o nosso quotidiano. A velha Lutécia e arredores continuam a ferro e fogo pois grupos de cowboys insurgem-se contra as medidas do xerife local. O nosso ocidente mais extremo serve de esconderijo a membros da Máfia italiana e da ETA basca.

Dois grupos de velhos “bandidos” depõem as armas e sentam-se à mesma mesa onde, sob a vigilância de virtuais xerifes, vão discutir o que melhor fazer com dinheiro que não lhes pertence.

Não se sabe se haverá whisky e bailarinas. Presume-se que sairão todos amigos e que os subordinados continuarão a viver mais pobres mas sob um sol radioso…

Ricardo Duarte

sábado, 16 de outubro de 2010

Coragem - II

Ainda sob o tema da coragem, importa reflectir sobre as acções mais polémicas protagonizadas nos últimos tempos pelo presidente francês Sarkozy, também ele não menos polémico, a expulsão do país de ciganos romenos.

Esta atitude originou no imediato reprovações vindas de vários quadrantes, com a União Europeia à cabeça. Acusações de racismo e xenofobia abundaram, bem como de estar a agir contra o própria moral francesa, moral essa que ainda provém do espírito da revolução de 1789/99.

No entanto, mais do que uma medida de política interna, acabou por pôr ainda mais a nu no plano internacional as fragilidades deste modelo de União Europeia. Destaco apenas duas debilidades: a incapacidade da União de impor as suas leis uniformemente aos 27 membros, e a incapacidade de estabelecer regras sociais, especialmente direccionadas para emigração.

Deixando desde já de lado as correntes migratórias africanas e asiáticas que solicitam (e pressionam) a União constantemente, deve esta entender que mesmo entre estados membros, é impossível cada um absorver na sua sociedade fluxos constantes vindos dos países mais pobres de leste. Facto que se agrava quando esses fluxos nada trazem de valor acrescentado à sociedade acolhedora. Bem pelo contrário, agravam os índices de criminalidade e insegurança, promovem a mendicidade e a prostituição.

Abordando a questão de uma forma meramente básica e de senso comum, como um dia referiu o ex-presidente espanhol Aznar, é impossível recebermos na nossa casa vinte pessoas se nela só couberem dez…

No mundo cada vez mais global e complexo a coragem deve sobrepor-se à demagogia. A honestidade deve prevalecer sempre, principalmente a intelectual!

Ricardo Duarte.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Coragem - I

É o tema dominante da nossa actualidade a questão em torno do novo orçamento de Estado. Em campo dois lados opostos esgrimem os seus argumentos. De um lado o proponente do documento, o Governo. De outro, a oposição liderada pelo maior partido contestam e desaprovam todo o conteúdo que possa vir a trazer mais encargos fiscais aos cidadãos.

Serve de cenário a esta “guerra fria” ou jogo de gato e rato, uma conjuntura interna e externa bem representativa. Por um lado, internamente o País está uma autêntica manta de retalhos a nível social e económico, devido a anos sucessivos de políticas desastrosas, pautadas pela falta de coragem dos eleitos e pela satisfação dos interesses das respectivas clientelas associadas ao partido no poder em cada momento, o que causou no expoente máximo a grave situação das contas públicas. Por outro, a nível externo sofre o País constantes pressões económicas por parte de credores e especuladores, pressões essas a que é incapaz de responder devido à sua fragilidade intrínseca consequente das tais politicas do passado, fragilidade que o impossibilita de se libertar da “teia” global que é a Crise (termo que tanto explica tudo como quase nada…)

Assim temos um Governo que ameaça demitir-se se não for aprovado o seu orçamento, seja ele qual for e tiver ele que ser revisto as vezes que se julgarem necessárias, apoiado por um conjunto de “catedráticos”, na sua grande maioria ex-governantes com tantas responsabilidades na situação vivida como os actuais.

A assistir à situação encontra-se uma comunidade internacional de credores e especuladores que como num jogo de xadrez, espera pelo movimento do adversário para decidir qual a peça que avança para melhor atacar o rei.

Um dos principais atributos que devem constar do perfil de um líder é a coragem. A meu ver, desejo que esse atributo (raras vezes demonstrado pelos nossos governantes) invada toda a oposição e dessa forma rejeitem qualquer orçamento que prejudique ainda mais os cidadãos. Entendo que havendo boa fé por parte do Governo, este é capaz de apresentar um conteúdo razoável. Dizer que “é melhor um mau orçamento do que nenhum” é pura e simplesmente um desrespeito para com a comunidade.

Será pior? Bom, muito pior do que se está… não consigo alcançar. Pelo menos ficará a tal coragem. E depois, como no xadrez, ainda existe o roque, uma jogada especial de salvação do rei. Mas essa só pode ser executada uma vez!

Ricardo Duarte.

domingo, 10 de outubro de 2010

Cultura:novos e velhos problemas

Nestes tempos de PEC que a todos incomoda,parece que as verbas para a cultura vão ficar em stand by, qual aeroporto em dia de erupção do vulcão islandês, com a perspectiva de toda a vida do país se centrar na disposição matinal dum qualquer funcionário de uma agência(americana) de rating ou se é dia de avançar com o TGV ou não.
Portugal está nos cuidados intensivos, e neste estado comatoso as prioridades vão para o soro ou as ligaduras e só residualmente para tudo o resto, num climax psicótico de finis patriae que, ao invés de tolher a acção, deve antes mobilizar os produtores culturais filhos da Crise.A Crise é um desafio para passar a um estado adiante, de eventual catarse, com novos paradigmas e novos protagonistas.A todos convoca, para, de forma envolvida e envolvente fazerem mais e diferente,contra a modorra dum país refém que abafa os seus espíritos criativos e tem falta de projectos galvanizadores para os cidadãos e não só para as empresas de obras públicas.
Obra pública é restaurar as sinergias criativas dos cidadãos com talento e projectos.E muitos há por aí, arrastando-se pelos cafés, sem perspectivas e apoios.
Em Sintra, os agentes culturais têm vontades, e deram um exemplo do que podem fazer, mesmo sem o apoio ou envolvimento dos poderes, fácticos ou reais, como o demonstrou a recente Mostra da PAACS, onde, sem dispêndio de um cêntimo, e com a apoio logístico duma junta de freguesia os mesmos mostraram que querem fazer coisas, há talentos e vontades,cidadanias por potenciar, país para fazer.Preciso se torna ser incisivo no essencial e deixar o acessório e lamuriento, partir para o terreno e não habitar em permanência os pseudo-confessionários do Facebook ou do Messenger, mobilizar e actuar.Só assim se pode fazer a diferença e partir para a construção de projectos envolventes, dando pequenos passos,em diálogo e partilha.
Problema velho, realidades novas.
Fernando Morais Gomes

sábado, 9 de outubro de 2010

Tourada - Arte Popular II

(Continuação)

No inicio da década a discussão atingiu o pico máximo com a mediatização da vila de Barrancos a respeito das tradicionais corridas com touros de morte, ilegais até então. Como é normal no nosso País, milhares de pessoas foram atrás das televisões e a pacata vila esquecida durante todo o ano reapareceu no mapa no mês de Agosto.

O poder político resolveu a questão com a criação de um regime de excepção de acordo com heranças culturais. Incapazes de promover uma discussão ampla e concreta, ignoraram os legisladores outros casos em tudo semelhantes como o das festas do Divino Espírito Santo na aldeia do Penedo em Colares. Com o intuito de agradar a gregos e a troianos, diversas autarquias vêm comunicando que não apoiam touradas, mas também não proíbem…

Certo é que apesar das polémicas (abertas até em maior escala no país vizinho) parece haver cada vez mais adeptos da festa brava.

Em Cascais, um movimento surgido na internet via Facebook reclamando a construção de uma nova praça de touros (a velhinha Monumental foi demolida em 2005) conta já com mais de 3000 apoiantes.

Em Sintra, nas festas de Verão deste ano, diversas aldeias incluíram nos seus cartazes pela primeira vez touradas, garraiadas, vacadas ou novilhadas.

Num País livre e democrático todos os cidadãos têm o seu direito de opinião. È uma verdade à La Palice. Por isso tanto é válido o direito de gostar com o de não gostar.

Entendo que num mundo cada vez mais global, as nossas diferenças, o que nos torna originais, são ainda as nossas raízes, as nossas tradições.

Por isso, embora pouco dedicado, sou Aficionado!

Ricardo Duarte

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tourada - Arte Popular I

Como tudo o que é polémico, ou tornado tal, quando se fala de touradas surgem logo reacções de sentimentos opostos. De um lado os que a defendem como manifestação artística e símbolo cultural. De outro os defensores (e pseudo) dos direitos dos animais, explicando-a como uma barbárie, espectáculo de sangue, próprio de sociedades do terceiro mundo.

Sem ser um grande aficionado, sou defensor desta arte. Entendo que espectáculos envolvendo animais sempre houve e sempre haverá e encontro na tourada uma dimensão artística e cultural pertencente à identidade portuguesa.  Muito para além da arte do toureio, encontro um conjunto de tradições e ofícios ligados ao espectáculo, desde o artesão que produz as bandarilhas até ao simples músico da banda que toca na tribuna, passando pelo sapateiro, ferrador, alfaiate, etc. Juntando-lhe o ambiente das tertúlias com a música incluída (musica popular, de improviso ou o fado), então não tenho dúvidas que temos arte.

 Irrita-me sobremaneira uma espécie abundante na nossa sociedade que são os arvorados em catedráticos de tudo e mais alguma coisa. No caso das touradas, existem os especialistas em sofrimento animal. Espero que essas sumidades expliquem um dia o verdadeiro sofrimento do touro tendo em conta as suas características anatómicas ou até que comparem esse sofrimento com o do seu cão que fazem questão de manter num apartamento anos a fio ou que o deixam fechado no carro durante uma tarde inteira de calor enquanto fazem compras numa grande superfície.

Por outro lado, para encontrarmos espectáculos com animais temos que ir a países do terceiro mundo como os EUA para assistir a rodeos, aos países escandinavos para assistir a corridas de trenós puxados por cães ou às Ilhas Britânicas para ver corridas de galgos ou cavalos.

(Continua)

Ricardo Duarte

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Novas oportunidades, falsas realidades!

Estamos já com três ou quatro semanas do novo ano lectivo e como em todos os anos, o inicio desse é marcado ora pelas mesmas más notícias de anos anteriores, ora por uma ou outra mais curiosa.

Aquela que provocou talvez mais comentários deu a conhecer o “melhor” aluno nacional das provas de acesso ao ensino superior, o qual obteve a classificação de 20 valores na prova específica de inglês. Tal não seria nada de estranho não fosse o facto de o cidadão ter efectuado o ensino secundário no programa “novas oportunidades”.

 Obviamente uma pequena polémica nasceu na opinião pública. De um lado, legitimamente algumas associações académicas mostraram a sua indignação pelo funcionamento do sistema de ensino que promove situações tão ou mais caricatas do que estas. De outro, defensores do sistema encobertos pela lei, nada de extraordinário observaram na situação.

De facto, nada de irregular pode ser apontado ao cidadão, visto estar a situação de total acordo com a lei vigente. A mesma razoabilidade já não pode ser aceite de bom grado se tomarmos em conta os valores morais e de justiça, bastando para tal reflectir sobre os reais objectivos do sistema imposto.

Ao ouvir a notícia, três ideias me vieram logo à mente.

A primeira diz respeito ainda aos meus tempos de estudante de liceu quando tinha um colega, excelente aluno a francês mas normal nas outras disciplinas. Tinha vivido quase toda a vida na Suíça e num dos cantões francófonos…

A outra fez-me lembrar outro colega, este quotidiano, que ingressou no programa das tais oportunidades e que uma “disciplina” que tinha era… preencher a declaração do IRS!!

A última, um outro amigo  que entrou no ano passado para uma faculdade privada de Direito sem ter o respectivo 12.º ano completo, faltando-lhe apenas a Matemática. Teria que a fazer durante o ano lectivo, em conjunto com o primeiro ano da faculdade. Como ainda não conseguiu, poderá este ano “trocá-la” por outras disciplinas ou módulos de outra coisa qualquer… Estranho?

Parece-me inquestionável que o nosso País vive um dos momentos mais negros da sua História no que respeita a valores, um pouco à imagem do mundo global. Crise essa agravada pelas politicas governamentais em especial nos sectores da justiça, do estado social e da educação. Mais do que nunca os cidadãos e os valores são números. Números para apresentar na dominadora União Europeia, números para apresentar aos credores internacionais. Números fáceis de conseguir bastando para tal promover o facilitismo, abdicar do esforço e da honestidade, quanto mais não seja, da intelectual.

Tais politicas são inconcebíveis e inaplicáveis em sectores chave da sociedade como a Educação. Como servem apenas para mascarar uma realidade, temo que no futuro iremos mais uma vez pagar a factura como hoje estamos pagando outras antigas. Essa terá não só o peso dos números na forma de moeda, como certamente pior, o buraco, o fosso que irá mostrar o distanciamento cultural e civilizacional para os outros membros da Europa, desta ou de outra qualquer…

Ricardo Duarte.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sintra - Turismo e Património

(reedição de um artigo já publicado no Verão passado em Alagamares.net)

Como local turístico, Sintra é frequentada por milhares de pessoas diariamente. Não seria grande problema, não significasse esse facto desordem constante, confusão total, alteração das rotinas diárias dos locais bem como do espírito e cariz dos lugares.

Estes factores que identificamos em Sintra essencialmente nos meses de Verão e pontualmente nos períodos da Páscoa, Carnaval ou Natal, são vividos durante todo o ano nos grandes destinos turísticos europeus como Roma, Atenas, Veneza, Paris entre outros. É um problema designado por pressão turística e tem levado à reflexão especialistas na área da gestão integrada do património bem como dos responsáveis da governação dos diversos locais.

Embora observemos que noutros locais se vão tomando medidas constantes no que respeita à salvaguarda do património, Sintra parece rumar no sentido totalmente oposto. Conforme estipula a Carta de Cracóvia (documento orientador das acções a levar a cabo no que respeita ao património e do qual Portugal é signatário) na alínea 11:

“A gestão das cidades históricas e do património cultural em geral, tendo em conta os contínuos processos de mudança, transformação e desenvolvimento, consiste na adopção de regulamentos apropriados, na tomada de decisões, que implicam necessariamente escolhas, e no controlo dos resultados. Um aspecto essencial deste processo, é a necessidade de identificar os riscos, de antecipar os sistemas de prevenção apropriados e de criar planos de actuação de emergência. O turismo cultural, apesar dos seus aspectos positivos para a economia local, deve ser considerado como um risco.

Deve prestar-se uma particular atenção à optimização dos custos envolvidos. A conservação do património cultural deve constituir uma parte integrante dos processos de planeamento económico e gestão das comunidades, pois pode contribuir para o desenvolvimento sustentável, qualitativo, económico e social dessas comunidades.”

Parece pois que estas curtas linhas pouco dizem aos responsáveis da governação que têm passado pelo Largo Virgílio Horta…

Excepção à regra é no entanto a acção que a empresa Parques de Sintra - Monte da Lua tem desenvolvido na conservação e reabilitação do património. São os exemplos maiores os restauros do Palácio de Monserrate e do Chalet da Condessa D’Edla. Apesar das criticas de que foi alvo aquando da intervenção nas diversas Tapadas na Serra de Sintra, (criticas essas originadas certamente pelo agressivo impacto visual causado por essas mesmo intervenções) é a sua acção reconhecida quase que de forma unânime por todos os minimamente entendidos nestas causas.

Há ainda assim um reparo a fazer. A construção de parques de estacionamento no cimo da serra junto ao Castelo dos Mouros e Parque da Pena e que para os quais até foram abertas clareiras na mata, não é de todo a forma mais indicada de salvaguardar o património natural. Mais uma vez a Carta de Cracóvia, no seu ponto 9 parece ser clara:

“As paisagens reconhecidas como património cultural são o resultado e o reflexo da interacção prolongada nas diferentes sociedades entre o homem, a natureza e o meio ambiente físico. São testemunhos da relação evolutiva das comunidades e dos indivíduos com o seu meio ambiente. Neste contexto, a sua conservação, preservação e desenvolvimento centram-se nos aspectos humanos e naturais, integrando valores materiais e intangíveis. É importante compreender e respeitar o carácter das paisagens e aplicar leis e normas adequadas que harmonizem os usos mais importantes do território com valores paisagísticos essenciais. Em muitas sociedades, as paisagens possuem uma relação histórica com o território e com as cidades. A integração da conservação da paisagem cultural com o desenvolvimento sustentado de regiões e localidades com actividades ecológicas, assim como com o meio ambiente natural requerem uma consciencialização e uma compreensão das suas relações ao longo do tempo, o que implica o estabelecimento de relações com o meio ambiente construído, de regiões metropolitanas, cidades e núcleos históricos. (…)”

Podem os gestores da PSML defender que necessitam de criar condições para receber o maior número de visitantes possível àqueles monumentos no sentido de criarem a receita necessária para as obras de conservação a que se propõem. É um dilema aceitável visto que a Câmara Municipal se demarca da obrigação de regular o trânsito automóvel no centro histórico e por extensão nesse local. Este facto é ainda agravado pela incapacidade e falta de preparação demonstrada pela principal força de segurança, GNR, na actuação neste contexto.

Contudo tem a PSML chamado ao seu domínio a conservação de diversos edifícios “menores” espalhados pela serra e que eram pertença de antigos organismos estatais como as Matas Nacionais. Um dos últimos edifícios “angariados” deste tipo, trata-se de uma antiga casa de cantoneiros, situada no Largo Sousa Brandão em São Pedro de Sintra, outrora pertencente à Junta Autónoma das Estradas e que se encontrava esquecido há mais de 30 anos.  

Mas não só edifícios públicos compõem o património edificado e cultural de qualquer sociedade, Sintra neste caso. Também os edifícios (ou “espaços” num sentido mais lato) pertencentes a privados necessitam, na sua grande maioria, de adequada intervenção no âmbito da requalificação. De imediato vêm-nos à mente os prédios do antigo Hotel Netto e do Café Paris no centro histórico, ou o Vale da Raposa e a antiga Sintra Garagem na Estefânia.

Se a obrigação de uma intervenção legal por parte da Câmara Municipal no sentido de regular esta decadência nos parece óbvia pelo mero senso comum, tanto mais é justificável quando em causa está a salvaguarda da identidade dos lugares.

E não é a identidade dos lugares que os faz destinos turísticos, locais possuidores de algo especifico de satisfazer quem os visita?

É comum dizer-se que a qualidade do turismo em Sintra é má. Seria fastidioso estar a enumerar argumentos. Mas como se comporta a grande maioria dos turistas que nos visitam?

Chegam de manhã, visitam um monumento a correr, compram queijadas e partem. E “viram” Sintra em meio dia, tempo que não é suficiente para visitar apenas metade dos seus monumentos, das suas masterpieces. No centro histórico pouco encontram que identifique as pessoas e o lugar de Sintra.  Para tal teriam que percorrer mesmo ali ao lado os bairros de São Pedro e da Estefânia, ou com mais tempo as zonas rural e costeira. Só nestes locais iriam encontrar os melhores restaurantes, o verdadeiro artesanato e até a divulgação artística sintrense.

No entanto Sintra poucas condições oferece para convencer um bom turista a descobri-la. Seria necessário haver uma boa campanha promocional e divulgadora (de espírito totalmente oposto às que vão aparecendo…), uma boa rede de alojamentos, de preços acessíveis, a complementar as poucas pensões/residenciais de qualidade que existem, um cartaz cultural dinâmico e abrangente e até uma politica integrada com os municípios vizinhos.

Passos iniciais, básicos, que em funcionamento iriam desenvolver outras acções mais especificas e abrangentes e que certamente melhorariam a qualidade de vida dos que em Sintra vivem, que satisfariam quem a procura, e que acima de tudo valorizariam a sua identidade.

Difícil? Muita vontade e carolice dos sintrenses já existem. Basta então o apoio camarário, bastando por vezes não complicar e assim poder somente preocupar-se com o património edificado…

Ricardo Duarte

domingo, 3 de outubro de 2010

Mais um blogue, mais um espaço de liberdade e participação.Todos são convidados para a partilha de ideias, sugestões, ansiedades.
No Portugal de chumbo dos anos 10, cem anos depois da República e 36 depois do 25 de Abrl, todos os espaços são poucos para dar voz aos silêncios gritantes que cada vez mais fazem uníssono no seio de almas aflitas mas corajosas e de dávida ansiosa.
A palavra ao serviço da emoção e da razão, eis o porquê deste blogue de todos os contribuidores que sintam que tenham algo para dizer.
Um blogue diferente.
Fernando Morais Gomes

sábado, 2 de outubro de 2010

Bed English!

Ainda pensei escrever o primeiro post deste blogue em inglês. No entanto, ainda que o domine o suficiente para produzir um texto de fácil compreensão, receei cair naquela versão que por estes dias mais está presente nas nossas tertúlias, o BAD ENGLISH.
Bad english? A expressão reporta-se ao seguinte: na passada semana o primeiro-ministro de Portugal (sim, aquele que tem no curriculum uma licenciatura em engenharia da qual consta um exame de inglês técnico feita por fax, aquele que considera que quem ganha 600,00€ por mês não merece abono de família…) efectuou uma comunicação na Universidade de Columbia em Nova Iorque sobre políticas energéticas a alunos e professores da referida Instituição, uma das mais importantes do mundo.
Usou para tal a língua inglesa tendo avisado os receptores em tom de piada macarrónica que não se iria expressar em comum bad english mas sim em english.
Tal comunicação abunda em erros de gramática e de vocabulário suficientes, pelo que cheguei a pensar estar a ouvir uma qualquer abordagem do Zezé Camarinha a uma loira do countryside numa praia algarvia. Mesmo o conteúdo do discurso é tão pobre que nem deveria de ser proferido numa escola de 2.º ciclo em Freixo de Espada à Cinta...
Ainda julguei também que o senhor teria inventado uma nova variante da língua inglesa. Além do inglês técnico/científico, do arcaico, do literário ou até do mais puro (falado quase em exclusivo pela rainha) estaria ouvindo um novo estilo, qualquer coisa como um bed english.
Imagino como se sentirá o docente que corrigiu aquele exame que recebeu num belo Domingo…
Ao que sabemos, as comunicações em palestras não costumam ser elaboradas pelos emissores das mesmas pelo que uma dúvida me consome: que sumidade terá escrito aquele texto?
A resposta à pergunta pouco interessa. O que fica registado mais uma vez é a péssima imagem deixada por este alto representante da Nação além fronteiras. Como viajante regular, reconheço e sinto orgulho pela imagem que o nosso povo e País possuem no estrangeiro. Conheço também os esforços a que os cidadãos comuns se dedicam para tal. Tenho pena que, sendo Portugal um País ainda culturalmente e socialmente atrasado em relação aos outros congéneres, essa característica sejam repetidamente evidenciada por aqueles que nos deveriam representar convenientemente.
Uma ideia final:
Senhor Engenheiro, não invente. Esqueça o castelhano e o inglês. Nem se atreva em francês ou alemão. Comunique somente em português…
Ricardo Duarte.