quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Novas oportunidades, falsas realidades!

Estamos já com três ou quatro semanas do novo ano lectivo e como em todos os anos, o inicio desse é marcado ora pelas mesmas más notícias de anos anteriores, ora por uma ou outra mais curiosa.

Aquela que provocou talvez mais comentários deu a conhecer o “melhor” aluno nacional das provas de acesso ao ensino superior, o qual obteve a classificação de 20 valores na prova específica de inglês. Tal não seria nada de estranho não fosse o facto de o cidadão ter efectuado o ensino secundário no programa “novas oportunidades”.

 Obviamente uma pequena polémica nasceu na opinião pública. De um lado, legitimamente algumas associações académicas mostraram a sua indignação pelo funcionamento do sistema de ensino que promove situações tão ou mais caricatas do que estas. De outro, defensores do sistema encobertos pela lei, nada de extraordinário observaram na situação.

De facto, nada de irregular pode ser apontado ao cidadão, visto estar a situação de total acordo com a lei vigente. A mesma razoabilidade já não pode ser aceite de bom grado se tomarmos em conta os valores morais e de justiça, bastando para tal reflectir sobre os reais objectivos do sistema imposto.

Ao ouvir a notícia, três ideias me vieram logo à mente.

A primeira diz respeito ainda aos meus tempos de estudante de liceu quando tinha um colega, excelente aluno a francês mas normal nas outras disciplinas. Tinha vivido quase toda a vida na Suíça e num dos cantões francófonos…

A outra fez-me lembrar outro colega, este quotidiano, que ingressou no programa das tais oportunidades e que uma “disciplina” que tinha era… preencher a declaração do IRS!!

A última, um outro amigo  que entrou no ano passado para uma faculdade privada de Direito sem ter o respectivo 12.º ano completo, faltando-lhe apenas a Matemática. Teria que a fazer durante o ano lectivo, em conjunto com o primeiro ano da faculdade. Como ainda não conseguiu, poderá este ano “trocá-la” por outras disciplinas ou módulos de outra coisa qualquer… Estranho?

Parece-me inquestionável que o nosso País vive um dos momentos mais negros da sua História no que respeita a valores, um pouco à imagem do mundo global. Crise essa agravada pelas politicas governamentais em especial nos sectores da justiça, do estado social e da educação. Mais do que nunca os cidadãos e os valores são números. Números para apresentar na dominadora União Europeia, números para apresentar aos credores internacionais. Números fáceis de conseguir bastando para tal promover o facilitismo, abdicar do esforço e da honestidade, quanto mais não seja, da intelectual.

Tais politicas são inconcebíveis e inaplicáveis em sectores chave da sociedade como a Educação. Como servem apenas para mascarar uma realidade, temo que no futuro iremos mais uma vez pagar a factura como hoje estamos pagando outras antigas. Essa terá não só o peso dos números na forma de moeda, como certamente pior, o buraco, o fosso que irá mostrar o distanciamento cultural e civilizacional para os outros membros da Europa, desta ou de outra qualquer…

Ricardo Duarte.

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