sábado, 29 de janeiro de 2011

Kefaya! *

Primeiro na Tunísia, agora no Egipto, assiste o Mundo a manifestações populares contra regimes autoritários em vigor naqueles países. Desde logo duas ideias centrais sobressaem: as ditaduras não são eternas e a convivência entre o Islão e a democracia é possível. Dos poucos muçulmanos que conheço, todos alinham pelo mesmo diapasão: a vida que levam não chega a nada, sentem-se totalmente limitados nas suas escolhas e evoluções pessoais.

De facto na base destas duas revoluções está a consciência, principalmente por parte dos jovens, de que merecem muito mais, são capazes de evoluir como todos os outros humanos e alguns valores existentes no mundo ocidental são perfeitamente conciliáveis com a vida árabe. Conhecimento esse alcançado pelo acesso que muitos desses cidadão têm aos estudos superiores, pelas vivências nos países ocidentais e pela globalização dos meios de informação. Não há ditador nenhum que possa evitar o seu crescimento, bloquear as suas ambições.

Assistimos assim a acontecimentos impensáveis há pouco tempo atrás. O mundo árabe já não é o mesmo, a curiosidade está em ver até onde chegará o efeito de contágio. O Egipto já agradeceu à Tunísia pelo primeiro passo dado, ficamos na expectativa de ver quem agradecerá ao Egipto.

Contudo, embora sendo uma questão circunscrita a uma determinada zona do globo, no tabuleiro diplomático outras estratégias se definem e mais uma vez a Europa fica para trás em relação ao seu rival do outro lado do Atlântico. Sendo os dirigentes europeus profetas habituais da moral e dos direitos humanos, permanecem calados, talvez devido aos acordos de fornecimento de petróleo ou gás natural já estabelecidos. Quem não se fez rogado foi Obama que de imediato saiu em defesa das populações e das suas reivindicações. Tunisinos e egípcios contam agora com uma aliança que Bush nunca lhes havia proporcionado. Certamente irão ter isso em conta no futuro.

Uma certeza porém, a História contará algo de novo de ora em diante.

(*) (em árabe: Basta!; Chega!)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A crise europeia: uma perspectiva axiológica.

Na última década assistimos à ascensão económica dos denominados BIRC (Brasil, Índia, Rússia, China) no panorama internacional, até então dominado unilateralmente pelos E.U.A.

Aliada histórica dos Estados Unidos, a Europa, manteve-se vinculada a um determinado modelo de desenvolvimento que produziu a sua crescente irrelevância na política e economia internacionais. O terrorismo, o seguidismo na guerra do Iraque e a crise financeira e económica destruíram apenas o que há muito ameaçava ruir mas que nenhum governante tentou evitar. De facto, o fim do império americano demonstrou a fragilidade em que a Europa vive e, que o contrário do que se possa afirmar, do perigo de uma grande regressão económica, politica e axiológica.

Num mundo onde a economia comanda a politica e dita os valores, o seu domínio por países onde a dignidade da pessoa-humana, a liberdade politica, a igualdade social e de género e o respeito pelo meio ambiente são miragens e alvo de ataques pelas gentes que governam nessas zonas do globo, é o problema mais grave na Europa desde a II guerra mundial. Todavia, os agentes políticos, agentes económicos e opinião publicada europeia mantêm a mesma estratégia anterior à crise: enfiar a cabeça na areia.

A valorização que se faz dos BIRC, apontados como exemplo, a igualdade de tratamento que lhes é atribuída nas negociações de politica internacional e nas relações comerciais entre países é um caminho perigoso e que marca a destruição daquilo que fez da Europa a referência do mundo: os seus valores. A substituição desses valores milenares com origem na Respublica Christiana pelo ateísmo, relativismo e cosmopolitismo dos mercados é a certeza da desgraça e a concretização do admirável mundo novo.

Devemos estar atentos e lutar contra este mundo de inevitabilidades que nos tentam impor. Não somos todos iguais, temos uma história e uma cultura próprias de que nos devemos orgulhar e todos os dias preservar para que o totalitarismo não nos derrote e nós, portugueses, povo milenar, temos esse dever histórico: impor uma nova ordem mundial onde os nossos valores estejam presentes, onde ditaduras e tiranias devem ser tratadas com o desprezo que merecem e não acarinhadas e desculpadas pelos cobardes e gananciosos que nos governam.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Que dirão as massas?

“Sempre considerei mais fácil convencer uma multidão do que uma única pessoa”

- Benito Mussolini


Finda que está a campanha eleitoral, vive-se hoje o habitual dia de reflexão anterior ao qual devem os cidadãos de uma democracia demonstrar através de voto secreto a sua escolha para o cargo em questão.

Mas também devem em democracia, os candidatos a qualquer cargo político apresentar propostas, pontos de vista, com o objectivo de satisfazer os desejos dos seus concidadãos.

E de facto nada de proveitoso se tirou dos discursos dos diversos candidatos. Acusações gratuitas de parte a parte e uma total ausência de reflexões coerentes dominaram o período que deveria ser destinado à apresentação de ideias, sujeitas a posterior análise do eleitorado. Mais preocupante se revela essa situação quando, para além de os candidatos terem passado uma imagem de desconhecimento do País, essa ignorância alastra-se à própria posição de Portugal na conjuntura internacional. A limitação de funções a que o Presidente da Republica está consignado não serve de desculpa.

Numa época dominada pelas tecnologias de informação, assistiu-se às habituais arruadas circenses e a comícios que fazem lembrar movimentos estudantis do século passado, embora esses bem mais ricos em termos de conteúdo.

Figuras ligadas às ditaduras do século XX como Mussolini ou Goebbels sabiam da importância fulcral da propaganda, da transmissão das mensagens com sucesso. Ainda que em contexto totalmente diferente, a comunicação política de hoje revela-se completamente fracassada.

Os politólogos da nossa praça prevêem a maior abstenção de sempre na história das eleições portuguesas. Preocupante dizem uns. Decadência da democracia defendem outros. Pois bem, a abstenção também faz parte do processo de escrutínio, compete a quem de direito tirar as devidas conclusões.

Contudo, a decisão ainda pertence às massas. Veremos o que irão decidir!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A eterna passividade do ser


Escrevo estas breves linhas com uma explicação prévia da minha humilde visão do “rectângulozinho à beira mar plantado”.

1) Isto é efectivamente um país e não uma associação criminosa governada, embora esteja pejado de casos de impunidade;

2) Vivemos efectivamente numa democracia, embora nem tudo esteja democratizado;

3) Em caso algum gostaria de viver numa ditadura em que eu fosse “pobrete mas alegrete”....

4) Existe liberdade de expressão embora nem toda a gente se esforce por se exprimir livremente, porque é preciso ter T****** e pode trazer consequências.

Ora bem, tomando isto como certo tenho um pequeno reparo a fazer, onde é que no testamento de Adão e Eva, se proibiu ao povo, que se deu ao trabalho de fazer um tratado com os vizinhos para dividir o mundo, de fazer uma reclamação porque umas calças não lhe servem nem nas orelhas, com a miserável justificação que foram compradas nos saldos? Ou que se pode servir um bife que está melhor para tapete do que para alimentação, a não ser claro que se tenha as suaves mandíbulas de um Pitbull...

Qual é o problema de reclamar, de pedir o que se tem direito? Quem é que no comércio, serviços ou na administração pública tem tamanho narcisismo que em caso algum pode ouvir uma qualquer crítica?

Chamam-me atrasado mental e arrogante entre dentes todos os dias na minha cara ou longe dela e eu aceito porque qualquer pessoa com dois olhinhos consegue ver isso. Porque é que um comerciante há-de ficar tão indignado com o facto de um café estar mais queimado que um tocador de gaita que ande a pedir na Rua Garrett?

Em Portugal a utilização racional, normal e justificada, de direitos subjectivos corresponde a um desatino assim tão grande?

As reclamações estão como que reservadas a uma elite pensante e estão associadas a fenómenos de burguesia de natureza patológica. Senão vejamos é sempre aquele “quéque” que veio reclamar do café, coisa que eu ando à anos para reclamar, mas simplesmente sempre achei que parecia mal? Isto não é nem normal nem saudável.

O normal exercício do direito não é coação!!!!!!!! Pedir uma factura não é sinal de desconfiança do comerciante que eu ando na lavagem de dinheiro, é sinal que o comerciante que nunca pagou IRC este ano vai pagar qualquer coisinha. Eu que estou sujeito a IRS por retenção na fonte tenho pago-o sem bufar, não vou ter de pagar ainda mais, para que o dito comerciante, possa importar um carrinho alemão para levar a mulher obesa ao supermercado. Recuso-me a pagar sozinho impostos quando quem tem mais capacidade contributiva do que eu podia pagar mas simplesmente não paga!!!!!!!!!

Quem não concorda com o raciocínio anterior, porque não gosta da maneira como se gasta o dinheiro dos impostos, vote em quem lhe dá garantias de como ele vai ser gasto e estimule outros a votar. Meus senhores isso é que é democracia, não é só mandar o patrão para a senhora que o deu à luz, ou mandar a pessoa que o ultrapassou no trânsito para se envolver de excrementos, que corresponde ao normal exercício da livre expressão democrática. Da mesa do meu café também eu conquisto o mundo e ganho o Euromilhões 30 vezes por mês, agora fazer alguma pequenina coisa, por exemplo, votar, dá a sensação de que se fez algo, nem que seja porque fiz alguma coisa num fatídico Domingo em que só me apetece dormir...

Se não confia em rigorosamente ninguém consulte um psiquiatra porque isso é patológico...

Peçam! Refilem! Estrebuchem! É o vosso direito e a vossa obrigação enquanto seres humanos!

Reparo: a música alta nos telemóveis em sítios ou transportes públicos não me aflige, porque quando se compram telemóveis roubados é muito raro virem com os phones. Por conseguinte não posso culpar o pobre idiota que não teve dinheiro para comprar um telemóvel topo de gama e teve de o comprar roubado, estimulando assim quem rouba a roubar o roubado, e assim, com um delicioso trava-línguas, a continuar o “comércio”.

João de Carvalho Rodrigues


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cultura e Não Inscrição

José Gil um dos filósofos da ribalta e considerado um dos 25 pensadores sistemáticos mais importantes do mundo responsabiliza a mediatização [espaço mediático, tal como a televisão, que cria um clima hipnótico e de “não-real” nas pessoas] de enevoar a sociedade portuguesa, não permitindo observar e compreender os acontecimentos com clareza. Assim sendo, o espaço mediático torna-nos um pouco indiferentes com o que nos rodeia e fomenta o fenómeno da “não-inscrição”. A “não-inscrição” é a acção de que tudo o que acontece, não transforma o real nem tem uma sequência e evapora-se, não tendo efeito no futuro. Com isto, dizemos que as coisas passam-nos de uma forma superficial, tornando-nos indiferentes e conformados, sentindo que nada podemos fazer. Então, é necessário um espaço público, livre e independente, onde as pessoas possam discutir e debater tudo o que seja do seu interesse, criando assim as cidades inteligentes. Portugal não é uma cidade inteligente porque a grande parte dos indivíduos dá grande, ou total, importância e atenção ao que apenas se passa no espaço mediático. José Gil veio, então, com o seu livro “PORTUGAL HOJE, o medo de existir” acordar os portugueses para a verdadeira realidade onde se exige uma certa inconformidade para poder transformar o nosso país num conjunto de cidades inteligentes, dotadas de cultura, de ideias e pensamentos próprios, livres e independentes, de forma a fazer-nos crescer.

Respingamos algumas considerações sobre a produção cultural na análise lúcida de José Gil:

«Na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições não foram ainda quebrados por novas formas de expressão da liberdade (...) O Portugal democrático é ainda uma sociedade de medo, e é o medo que impede a crítica” (...) raros são aqueles que conhecem o pensamento livre.»

«Não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.»

«Se vamos a um espectáculo de um coreógrafo que vem a Portugal, gostamos de dança e descobrimos qualquer coisa de novo, uma parte daquele espectáculo deveria derrubar alguma coisa na nossa vida e mudar a nossa vida, descobrir espaços diferentes, maneiras de falar e de comunicar, etc. mas o que acontece é que tudo isso fica para dentro. Nós gostámos muito, tivemos mesmo em êxtase, mas ao sair do espectáculo voltamos para casa, gostámos, mas não acontece nada... O feed back nos jornais é geralmente uma crítica sempre descritiva porque tem-se medo de inscrever. Não se ousa criticar porque se tem medo (...) A arte é uma questão privada. Não entra na vida, não transforma as existências individuais.»

«A não-inscrição continua hoje. O que acontece no nosso país é sem consequência. Nada tem efeitos reais, transformadores, inovadores, que tragam intensidade à nossa vida colectiva. Nestas condições, como participar no aprofundamento da democracia ?»

- Quem melhor poderá contribuir para as necessárias e urgentes alterações políticas, sociais e culturais senão os próprios agentes culturais, na sua diversidade de interesses?

- E porque é que isso não tem acontecido de forma concreta, estruturante e vigorosa ?

- Estaremos já submersos num tal "síndrome do pânico", que perdemos a orientação e o sentido da "boa vida" urbana ?

- O que significa "autonomia" e "liberdade" cultural, hoje, aqui e agora?

- Somos súbditos domesticados e obedientes ou cidadãos livres?

- Estaremos realmente sob o efeito de biopolíticas e biopoderes cujo objectivo de governação é a «desactivação da acção» ?

- E se é verdade que a biopolítica actual está em estreita conexão com as "indústrias criativas" (trabalho imaterial, bens imateriais, ideias, formas de comunicação, relações humanas, precariedade laboral, etc...) estará a vida cultural, afectiva e espiritual reduzida à retórica oportunista e eleitoralista dos nossos actuais governantes ?

- .... classes criativas, cidades criativas, bla, bla, bla...sim sim, claro...mas como? Assim de repente como quem faz magia e copia modelos importados à pressa? E o resto, as condições de cultura? A democracia participativa? O alargamento dos públicos da cultura? A democracia cultural? Os serviços públicos de cultura? A efectiva democratização da cultura e da criatividade? etc...etc...sem saltos "quânticos", portanto!

- Qual é acção cultural pertinente e necessária nas circunstâncias actuais ?

- Como estimular a auto-organização e a acção colectiva em rede nos sistemas culturais urbanos, designadamente nas cidades de média dimensão?

- Devem as Câmaras Municipais (do alto do seu abusivo protagonismo) ser programadoras de eventos culturais ad-hoc? Ou antes pelo contrário assumir um papel de catalisadoras e facilitadoras dos processos criativos, artisticos e culturais promovidos pela sociedade cívil?"

Questões para pensar

Fernando Morais Gomes


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Tulpan

Tulpan




Tulpan é um filme simples, com um argumento simples e sem estética pretenciosa.


A primeira ficção do realizador Sergei Dvortsevoi, nascido em 62 no Cazaquistão, fazendo ainda este parte da união soviética.

É escrito em conjunto com Gennadi Ostrovsky, já mais experiente na àrea da ficção.

O filme foi oficialmente lançado em 2009 nos Estados Unidos, chegou a Portugal na recta final de 2010, a 30 de Dezembro.


Acabado de vir do serviço na marinha, um jovem pastor das inóspitas estepes do Cazaquistão, regressa aquilo a que chama casa. Um yurt onde vive com a irmã, o marido da irmã e os sobrinhos, filhos do casal. Como todos os jovens pastores cazaques, sonha ter o seu próprio rebanho. O patrão só lhe oferece o primeiro rebanho se este casar casar, mas casar é difícil, porque a única rapariga disponível em largas centenas de quilómetros, Tulpan, acha que Asa tem as orelhas muito grandes para ser seu marido.

A partir destas situações o personagem questiona quem é, onde pertence, que valores lhe são mais queridos, para que foi talhado desde que nasceu.

E parece encontrar resposta para tudo nas secas estepes do Cazaquistão!

O filme é também carregado de metáforas que nos são dadas através dos animais que povoam o filme de forma incessante.


O trabalho dos actores é fantástico, e só se desconfia de facto que são actores porque naquele local com aquele trabalho, ninguém consegue ter as unhas tão limpas nem os dentes tão brancos e completos.

Ter incluído crianças e animais em tantas cenas de grande importância, dá no meu ponto de vista brejeiro o prémio “Balls of Steel” ao realizador!


A banda sonora é constituida por duas canções. Uma é entoada pela sua sobrinha que aquilo que mais gosta de fazer é cantar, a outra é o que parece ser a única cassete que o seu amigo tem no rádio do tractor, que por sinal é um carro industrial cheio de pornografia, onde nunca transporta animais. A canção é "Rivers of Babylon". O resto é o vento, as ovelhas, os camelos e o vento novamente, porque a música é feita por homens, e ali poucos há.


99% do tempo a câmara está na mão do que possivelmente é o realizador que vai escolhendo para onde a apontar de forma muito cuidada e elegante, criando longos planos sequência, sem caír no clichê da montagem do diálogo mais clássica A – B – A – B . Aquilo simplesmente flui. Se se perdeu um pouco de conversa daqui ou dali, pouco importa, o conteúdo está todo lá.


O filme é maravilhoso, a vida nas estepes do Cazaquistão nem tanto.

Link para o filme:

http://www.youtube.com/watch?v=naT9O8X13Ko


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O anel de Sintra


Tal como a aldeia gaulesa, Sintra está rodeada de legiões ansiosas por encher de novas construções o espaço em volta. Monte Santos, Quinta de Santa Teresa, Ramalhão, tudo espaços em torno do Centro Histórico para onde se anunciam moradias, hotéis em nome da necessidade de equipamentos turísticos, e que, tal como ocorreu no passado noutros locais, vão depois perdendo a natureza "altruistíca" de criar camas para o concelho para privilegiar a venda de apartamentos e casas de luxo, muitas vezes segundas residências que não trazem comércio ou terciário, apenas poluição visual(veja-se o caso da Quinta da Beloura, bunker monótono de casas onde não há vida nas ruas nem pessoas a circular, só pequenas fortificações à medida dos novos ricos que as compraram).
A revisão do plano de Groer-ou mesmo a elaboração dum outro plano- carece de ampliação da zona de intervenção que, em minha opinião , deveria coincidir com a zona da paisagem cultural de Sintra, com um orgão de gestão específico e único ,e um plano faseado de investimentos e incentivos ao comércio e serviços, na óptica da modernização e fornecimento de serviços. Isto a par de incentivos para o arrendamento de espaços degradados com apoios a quem se propusesse recuperar as casas, senhorios ou inquilinos, com incidência nas taxas a pagar ao Município. E sobretudo equacionando a questão do estacionamento, com a criação de 3 ou 4 parques periféricos com pequenos autocarros de apoio para o transfer de turistas e visitantes com carro, permitindo apenas o parqueamento aos moradores e apenas um veículo por família, com a possibilidade de se efectuarem trocas com moradores sem carro, na perspectiva de não se ultrapassar mais que 1 carro por fogo habitado, estando outras situações sujeitas a taxação.
A recuperação de fachadas e reconstrução desde que destinadas a projectos comerciais e culturais ou habitação deveria estar sujeita a um regime simplificado de mera conformidade com o plano e o elucidário arquitectónico, sendo isentos de taxas municipais os projectos que comprovadamente visassem recuperação de fachadas, criação de áreas comerciais ou habitação, e assim se mantivessem pelo prazo de 10 a 20 anos.
Enfim, muitas soluções existem, e é no diálogo com os munícipes, fregueses e fruidores de Sintra que as soluções devem fluir.Com urgência.


sábado, 8 de janeiro de 2011

Ritual de passagem: o ano novo.

A celebração de passagem do ano sempre esteve presente na cultura ocidental, provavelmente, desde sempre, muito antes das primeiras civilizações. Esta celebração não deixa de evidenciar a preocupação humana pelo controlo do tempo, pelo início da vida e da morte, pelas sementeiras e colheitas.
A passagem do ano é hoje celebrada a 1 de Janeiro, prática que foi instituída desde a implantação do calendário gregoriano em 1582, pelo papa Gregório XIII, estabelecendo uma diferença de 12 dias para o calendário juliano (século 46 a.C.), até então utilizado. A passagem civil do ano foi então imposta às comunidades tanto pelo poder temporal como pelo poder espiritual.
O calendário gregoriano veio, assim, alterar séculos de celebração da passagem do ano no solstício de Inverno ou no início da Primavera. A celebração realizada na Primavera esteve sempre presente na Roma clássica (no mês de Martius), tendo sido o motivo para a criação do calendário juliano, durante o governo de Júlio César, para que as festas não ocorressem com as temperaturas do Inverno ainda presentes. A celebração do solstício de Inverno, o dia mais curto do ano, teve grande importância entre os celtas na Europa pré-cristã e pré-romana, percorrendo o tempo, manteve-se profundamente enraizada na cultura europeia, consubstanciando-se na celebração do Natal. Curiosamente, o natal é celebrado no dia errado, pois o solstício de Inverno ocorre no dia 22 de Dezembro e não a 25 de Dezembro, tal deve-se a um erro de cálculo do solstício no período romano, mas como é corrente na sociedade, os usos tornam-se leis e ninguém mais os questiona.
O solstício de Inverno, chamado de Alban Arthan (a luz de Artur) na antiga tradição druídico-celta, era o período da morte e renascimento, onde tudo é escuro e o nosso único guia é Artur, o Grande Urso, a Estrela Polar. Era uma das quatro festas solares druidas, para os quais o sol estava no centro do círculo da vida do ano, do dia e do ser humano (os druidas acreditavam que o sol era o local de nascimento das almas).

A grande desvantagem da celebração do ano novo a 1 de Janeiro é o afastamento do ser humano do ciclo natural do tempo, substituindo-o por uma perspectiva burocrática que nada faz para uma relação harmoniosa entre o ser humano e o mundo natural. A reaproximação com o mundo nunca foi tão necessária no preenchimento do vazio que o relativismo nos trouxe nos últimos dois séculos. Deixar de viver considerando o tempo uma linha que parte do nada para o nada e que, portanto, vale tudo enquanto cá estamos: individualismo, ganância e egoísmo são os valores da matriz que nos levam à nossa auto-destruição.
Mas o tempo não é uma recta, é, como nos mostram as estações, circular, onde o passado e o futuro se conjugam no presente, onde no centro se encontra o sol e as almas. Com respeito pelos antepassados e pelo mundo natural, e conscientes das consequências kármicas, depositemos a semente na terra para colhermos todos um futuro melhor.
A celebração da passagem do ano é assim um importante acontecimento natural e histórico-cultural, que devemos ter presentes no momento de agitar o champanhe e fazer saltar a rolha da garrafa… A todos um bom ano.

Difícil de prever?

A desvantagem do capitalismo, é a desigual distribuição das riquezas e a vantagem do socialismo, é a igual distribuição das misérias.”
                                                                                                                   
 - Winston Churchill


"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado."

- Karl Marx in “Capital”


Quando nos propomos fazer um estudo em qualquer área, o passo inicial é sempre recorrer à bibliografia existente. Nela, grandes estadistas, filósofos, investigadores deixaram produzidos trabalhos de anos das suas vidas dedicados a causas. É assim, na História, Economia, Sociologia, em tudo. Nos trabalhos publicados sustentamos o nosso próprio como prevemos desenvolvimentos futuros.

As duas citações supra mencionadas pertencem a duas figuras inquestionáveis da nossa História que dispensam qualquer apresentação e enquadram-se nas temáticas da política e da economia. Embora de linhas de pensamento totalmente opostas convergem para a realidade que vivemos nos dias de hoje.

Daí que a questão em epígrafe faça sentido quanto mais não seja porque pelo menos uma vez já deve ter despertado a reflexão de cada um de nós.

Não! Já tudo estava mais que previsto. A bolha Madoff ia rebentar. Sabia-se o que se passava no BPP. Sabia-se como ia acabar o BPN. Sabia-se como iriam reagir as instâncias internacionais à bandalheira portuguesa, ainda que assentes em carácter especulativo. E o que foi feito? Nada.

Nada porque os brilhantes estadistas de hoje além de incompetentes agem com má fé. Nada porque nem sequer conseguem aproveitar o que lhes foi deixado. Sobranceiramente olham para os grandes nomes do passado como desactualizados, descontextualizados, alguém que somente faz parte da história. Demagogicamente citam a Bíblia comummente nos seus discursos, talvez não sejam textos tão antigos...

E pior do que se revelarem nulidades no seu tempo, também o futuro padecerá com tal pois não creio que a esmagadora maioria da classe governante existente consiga produzir algo que possa ter interesse cientifico relevante nos tempos posteriores.

Paradigma disso mesmo é a campanha eleitoral que vivemos onde os diversos candidatos não conseguem apresentar uma ideia estruturante para… quatro anos. Ironicamente o candidato Coelho parece ser o mais lúcido…

Contudo a resignação é indesejável e à boa maneira da dialéctica hegeliana serve uma frase de outro grande estadista, Charles De Gaulle, como síntese das duas acima transcritas:

“O fim da esperança é o começo da morte”

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Social Distortion - Novo Álbum.

Está agendado para dia 18 deste mês o lançamento do novo álbum da banda californiana de punk-rock Social Distortion, seu oitavo álbum de estúdio.

Há alguns anos que sigo esta banda tendo até vindo a tornar-se uma das minhas favoritas não só pela própria sonoridade como também pela mistura que consegue fazer com estilos mais ligados às raízes americanas como o country ou blues. É também esta banda o perfeito exemplo de que como o carisma do seu principal elemento se confunde com a identidade do grupo. Da história de vida de Mike Ness, fazem parte problemas com drogas e com a justiça, faceta de enfant terrible também associada a personalidades deste género.

Fundada em 1978 e mesmo não sendo conhecida no grande público, mantém ainda hoje um fiel número de seguidores, tornando-a um dos ícones do meio underground (sendo que aqui esta expressão significa fora do mainstream) da cena rock. A única vez que os vi ao vivo aconteceu em 2009, em Paris, na sala Le Bataclan (contemporânea do nosso Coliseu dos Recreios em idade, espírito e estilo) e de facto foi um concerto daqueles… Foi também a primeira vez da banda naquela cidade. A cidade luz não é propriamente conhecida por receber eventos próprios das denominadas subculturas, o que me causou espanto a multidão que envolveu o espectáculo. Cheguei mesmo a interpolar alguém numa conversa casual:

- Desculpa lá, mas de onde é que saiu esta gente toda? Estou em Paris há vários dias e não vejo nenhuma destas pessoas no dia a dia…

- Pois sabes, Paris é muito fashion. O pessoal quando quer alguma coisa disto apanha o avião e vai para Berlim…   

Como eu vos percebo!!!

O título do novo álbum é sintomático nos dias que correm “Hard Times and Nursery Rhymes

Fica aqui o link para um tema da banda presente no terceiro álbum e homónimo. É uma versão de “Ring of Fire” do eterno Johnny Cash: http://www.youtube.com/watch?v=2BaksqH2YXQ


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Cópia Certificada" de Abbas Kiarostami

A criança brinca à chuva.
-Vem para dentro que está a chover!
-E então?
-Então ficas todo ensopado!
-E então?
-E então constipas-te!
-E então?
-Então podes apanhar uma pneumonia se te constipares!!
-E então?
-E então podes morrer!!!
-E então, não vamos todos morrer?
Um monólogo interpretado por Juliette Binoche, Elle, no último filme de Abbas Kiarostami.
"Cópia Certificada", que está agora em algumas salas de Cinema para ser apreciado pelos amantes da Sétima Arte.
Não é uma comédia nem um filme romântico. É um filme brilhantemente realizado acerca da grande dificuldade que pode ser manter uma relação próxima de alguém que nos é muito querido, e de que mais feliz é aquele que mantiver tudo à sua volta o mais simples possível. É entender que um gesto simples como tocar no ombro de alguém, pode tornar essa pessoa mais feliz. O que é o original? O que é a cópia?
A confusão que são o Inglês, Italiano e Francês, quando faladas ao mesmo tempo por duas pessoas diferentes. Uma metáfora, obviamente.
Tanto Juliette Binoche como William Shimell são impecáveis nos papéis que desempenham, representando de uma forma extremamente contida, onde grande parte das vezes conseguem dizer mais com a expressão corporal que com o texto.
O argumento é simples, porém bem explorado. Só alguém sem pingo de humanidade seria capaz de não reconhecer naquelas duas personagens, Elle e James Miller, um pouco de si num ou outro momento da sua vida.
Kiarostami é simplesmente "brilhante", colocando a câmara sempre de uma forma muito simples, mas elegante e coerente, dando quase sempre uso a toda e qualquer superfície espelhada para mostrar o que se passa do outro lado.
O filme decorre num ritmo bastante lento, o que nem é bom nem mau. É assim. O hábito criado por outro tipo de cinema, tanto no que diz respeito ao ritmo e leitura dos planos, como no que diz respeito à banda sonora, faz com que o espectador comum se aborreça com facilidade, sendo esta talvez uma explicação para o factor da sala conter apenas 3 pessoas.
Mais uma grande obra do tardio realizador que vale a pena ver.
Este filme valeu a Binoche o prémio de melhor actriz no Festival de Cinema de Cannes 2010

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Perguntas para 2011-Perguntar não ofende...



Porque é que em Sintra não há uma livraria e ao domingo nem um sítio para comprar o jornal?

Porque é que as carreiras da Scotturb nunca passam a horas e os condutores conduzem como se fosse transporte de gado?

Porque é que não há um serviço de limpeza dos grafittis que empocalham as paredes da Estefânea e não só?

Porque é que os lixos vegetais junto às bermas das estradas estão às vezes mais de um mês sem serem recolhidos?

Porque é que na Praia das Maçãs está há anos um prédio em risco de ruir sem que se tomem providências?

Porque é que o “mamarracho” do Hotel Bristol nunca mais se resolve?

Porque é que não se avança com a classificação do património natural e florestal restringindo o abate de árvores sem parecer dum Conselho consultivo que envolva a sociedade civil?

Porque é que não se penaliza os proprietários que não fazem obras, restringindo por exemplo, o direito a construir edificações novas no concelho enquanto se demonstre serem proprietários de outras ao abandono?

Porque é que não há um parque de campismo em Sintra?

Porque não se implementa uma política de cheque obra em que 1% das taxas cobradas se destinem a promoção cultural e apoio aos agentes culturais?

Porque não se elabora um novo Elucidário para todos os centros históricos de Sintra?

Porque não se organiza um Banco do tempo onde certas taxas seriam substituídas por trabalho a favor de causas comunitárias com créditos de horas?

Porque não se cria uma escola de artes da Pedra para potenciar o cluster de Pêro Pinheiro?

Porque é que não se cria uma Agência Municipal de Investimentos, prospectiva e pró-activa?

Porque é que não se desburocratiza o fornecimento de horários de funcionamento dos estabelecimentos nocturnos?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Para os anjos e os santos, talvez até para Deus, aquele momento entre as 23:59 e as 00:00, entre 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, seja um dos períodos do ano mais frustrantes, e em que tais entidades divinas têm de apontar mais nomes de mentirosos, não vão ter um momento de esquecimento quando for a hora da verdade. Todos devem ser confrontados com os seus pecados, às portas do paraíso, depois de dar o esperado peido mestre. Mentir é um pecado, nem que seja mentir a si mesmo.
Nesse curto período molhado com espumante rasca, momento em que as tampas das panelas ganham uma vida que só quando tilintam em cima de água fervente deixam suspeitas de ter, hora em que o céu das capitais do mundo se enche de côr e as explosões não metem medo aos veteranos embriegados, em que mulheres lindíssimas beijam estranhos e lhes desejam um bom ano (tal como me aconteceu este ano no backstage do concerto), instante em que até as pessoas mais sérias, coladas com UHU às posições mais solenes gritam, assobiam.
Nesses 10 ou 15 minutos de loucura total, toda a gente tende a resolver qualquer coisa. Algo que não se fez o ano passado que se vai fazer este. Um comportamento que se vai alterar. Por exemplo, as marcas de tabaco perdem milhões de clientes que ganham minutos depois. As putas deixam de ser putas, porque era só um ano até fazer aquela quantia. A humanidade torna-se santa e cheia de objectivos a cumprir nos próximos 365 dias, e os anjos que se lixem, como as linhas de telefone, ficam sobrecarregados com clientes chatos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Onde param os Amigos de Alex?


2011 é um ano charneira para fazer o balanço da geração flower power que faz agora cinquenta anos despontou, com a quebra das convenções suscitadas pelos Beatles, Byrds, Jim Morrison, Janis Joplin e outros, e a contestação juvenil que começou com a guerra do Vietname e desaguou no Maio de 68 e em Woodstock. Sejamos razoáveis, exijamos o impossível era um slogan que hoje faz muita falta na busca de novos amanhãs sonhados e da sociedade libertária e libertadora .

Cinquenta anos depois, qual o legado desse passado? Umas T-Shirts de Che Guevara, uns vinis dos Rolling Stones, pins de movimentos de esquerda, tudo arrumado no mausoléu da memória para os nossos filhos acharem que curtimos bué mas lhes lixamos o futuro. Já desencantados nos anos oitenta, acomodados no Sistema a frase passou a ser, quem não é revolucionário aos vinte não tem coração, quem é revolucionário aos quarenta não tem cabeça. Hoje os imperialistas dos anos 60 chamam-se mercados, a classe operária parceiros sociais o único movimento colectivista é o do Facebook, paradoxo do individualismo virtual, holograma de opiniões aburguesadas e viradas para cada um, as canções de protesto são óptimas com vodka preta ou um shot na festa do Avante ou no Sudoeste onde até há uns cotas castiços que sabem umas músicas que passam no Conta-me como Foi.

Foi bonita a festa pá, mas o orgasmo colectivo acabou em tuberculose e anemia. Cinquenta anos depois, o que fizemos do Futuro? Ou antes, o que deixámos que não fizessem com ele? Para o bem ou para o mal agradeço o facto de ter vivido e crescido nessa geração, de generosidade, partilha e sonhos. Sim, porque nessa altura, sem liberdade e sem dinheiro, sonhávamos, hoje temos pesadelos acordados e estamos zombies na vida e sem projecto. Pessimismo? Não, reflexivo, apesar de tudo o homem ainda é a medida de todas as coisas.

Um mote para um tema a discutir em 2011. Do rio que tudo arrasta dizem ser violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem…

E agora vou ali reler o meu Antonin Artaud e tomar um gin ao som dum Eric Clapton. Em vinil.