sábado, 29 de janeiro de 2011

Kefaya! *

Primeiro na Tunísia, agora no Egipto, assiste o Mundo a manifestações populares contra regimes autoritários em vigor naqueles países. Desde logo duas ideias centrais sobressaem: as ditaduras não são eternas e a convivência entre o Islão e a democracia é possível. Dos poucos muçulmanos que conheço, todos alinham pelo mesmo diapasão: a vida que levam não chega a nada, sentem-se totalmente limitados nas suas escolhas e evoluções pessoais.

De facto na base destas duas revoluções está a consciência, principalmente por parte dos jovens, de que merecem muito mais, são capazes de evoluir como todos os outros humanos e alguns valores existentes no mundo ocidental são perfeitamente conciliáveis com a vida árabe. Conhecimento esse alcançado pelo acesso que muitos desses cidadão têm aos estudos superiores, pelas vivências nos países ocidentais e pela globalização dos meios de informação. Não há ditador nenhum que possa evitar o seu crescimento, bloquear as suas ambições.

Assistimos assim a acontecimentos impensáveis há pouco tempo atrás. O mundo árabe já não é o mesmo, a curiosidade está em ver até onde chegará o efeito de contágio. O Egipto já agradeceu à Tunísia pelo primeiro passo dado, ficamos na expectativa de ver quem agradecerá ao Egipto.

Contudo, embora sendo uma questão circunscrita a uma determinada zona do globo, no tabuleiro diplomático outras estratégias se definem e mais uma vez a Europa fica para trás em relação ao seu rival do outro lado do Atlântico. Sendo os dirigentes europeus profetas habituais da moral e dos direitos humanos, permanecem calados, talvez devido aos acordos de fornecimento de petróleo ou gás natural já estabelecidos. Quem não se fez rogado foi Obama que de imediato saiu em defesa das populações e das suas reivindicações. Tunisinos e egípcios contam agora com uma aliança que Bush nunca lhes havia proporcionado. Certamente irão ter isso em conta no futuro.

Uma certeza porém, a História contará algo de novo de ora em diante.

(*) (em árabe: Basta!; Chega!)

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