terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Cópia Certificada" de Abbas Kiarostami

A criança brinca à chuva.
-Vem para dentro que está a chover!
-E então?
-Então ficas todo ensopado!
-E então?
-E então constipas-te!
-E então?
-Então podes apanhar uma pneumonia se te constipares!!
-E então?
-E então podes morrer!!!
-E então, não vamos todos morrer?
Um monólogo interpretado por Juliette Binoche, Elle, no último filme de Abbas Kiarostami.
"Cópia Certificada", que está agora em algumas salas de Cinema para ser apreciado pelos amantes da Sétima Arte.
Não é uma comédia nem um filme romântico. É um filme brilhantemente realizado acerca da grande dificuldade que pode ser manter uma relação próxima de alguém que nos é muito querido, e de que mais feliz é aquele que mantiver tudo à sua volta o mais simples possível. É entender que um gesto simples como tocar no ombro de alguém, pode tornar essa pessoa mais feliz. O que é o original? O que é a cópia?
A confusão que são o Inglês, Italiano e Francês, quando faladas ao mesmo tempo por duas pessoas diferentes. Uma metáfora, obviamente.
Tanto Juliette Binoche como William Shimell são impecáveis nos papéis que desempenham, representando de uma forma extremamente contida, onde grande parte das vezes conseguem dizer mais com a expressão corporal que com o texto.
O argumento é simples, porém bem explorado. Só alguém sem pingo de humanidade seria capaz de não reconhecer naquelas duas personagens, Elle e James Miller, um pouco de si num ou outro momento da sua vida.
Kiarostami é simplesmente "brilhante", colocando a câmara sempre de uma forma muito simples, mas elegante e coerente, dando quase sempre uso a toda e qualquer superfície espelhada para mostrar o que se passa do outro lado.
O filme decorre num ritmo bastante lento, o que nem é bom nem mau. É assim. O hábito criado por outro tipo de cinema, tanto no que diz respeito ao ritmo e leitura dos planos, como no que diz respeito à banda sonora, faz com que o espectador comum se aborreça com facilidade, sendo esta talvez uma explicação para o factor da sala conter apenas 3 pessoas.
Mais uma grande obra do tardio realizador que vale a pena ver.
Este filme valeu a Binoche o prémio de melhor actriz no Festival de Cinema de Cannes 2010

1 comentário:

Cris Indie disse...

parece-me interessante. Gosto smpre de prceber melhor as reacçoes entre pessoas talvez o filme me ajude a perceber algumas coisas. E as personagens atraem-me : ) obrigada pela dica