Quem por Sintra andou nas noites deste ultimo fim-de-semana, deparou-se com um conjunto de iniciativas artísticas nada habituais nessa vila. E que espectáculo! Tratou-se de um conjunto de projecções multimédia que decoraram as fachadas de vários edifícios, com o ponto alto nos Paços do Concelho e Palácio Nacional.
Tal iniciativa trouxe à rua milhares de pessoas nos três dias de duração. E a magnificência traduziu-se não só no carácter estético produzido pelos artistas, mas também na coerência descritiva e integrante das diversas peças ao longo do percurso. Começando no Café Saudade, onde a instalação convidava à participação dos espectadores e acabando no Paço Real onde um poema de Garrett era interpretado por Ruy de Carvalho com a história do Palácio à mistura, pelo meio ainda se via o edifício dos Paços do Concelho transformado em caixa de música, ou o Museu do Brinquedo em máquina de flippers. E ainda o edifício do Turismo e Igreja abertos.
De facto, evento a tal escala só mesmo habitualmente em lugares com outra dimensão. O próprio painel de sponsors falava por si…
Contudo, sempre os mesmos problemas estruturais teimam em persistir. Ora, a inexistente organização do trânsito, apesar da presença das duas (?!?!) forças policiais, GNR e Policia Municipal, originou a situação caricata de uma autêntica salada russa composta por carros, pessoas e Arte. Pessoalmente acho que o problema estrutural começa a conferir estupidez, a avaliar por comentários de alguns “agentes” de autoridade.
Serve esta exposição também para trazer aqui à reflexão três ideias:
1. A CRISE não significa amorfia das sociedades. Diversas ideias, projectos, podem ser postos em prática. O financiamento é sempre um problema, é certo. Mas as boas iniciativas têm sempre valor. Estou em crer que os diversos patrocinadores não deram por mal empregue a associação do seu nome/marca a esta iniciativa.
2. Nem toda a cultura tem que ser erudita. Nem toda a Arte tem que ser convencional. Grosso modo, os consumidores de arte, seja de rua ou num museu, num sentido lato não conseguem desenvolver um sentido crítico aprofundado daquilo que observam. Mas mesmo sendo certo que os milhares de pessoas ali presentes foram impulsionados pela divulgação televisiva, todas as iniciativas artísticas coerentemente concebidas são poucas para potenciar o nível cultural da população. Quando outros estímulos não existem, estes são essenciais.
3. Estamos habituados a que as grandes iniciativas parem pouco em Sintra. Regra geral faz-se um ano ou dois e depois acaba, esquece-se. Quanto a mim um evento destas características deveria passar a continuo. Uma vez por ano Sintra teria o seu evento. Não podem ser referências os circos das “feiras medievais”. Quem sabe associado até ao Festival de Sintra. Julgo que o sucesso passou em muito pelo profissionalismo das diversas entidades que o organizaram e acima de tudo o souberam promover num curto espaço de tempo. E costuma ser a promoção e a divulgação, os principais problemas dos eventos afectos à organização camarária como o, em tempos famoso, Festival de Sintra. Uma boa oportunidade para se rever os canais de comunicação.
Uma nota final acerca da projecção no Palácio da Vila. Apesar das imposições do novo acordo ortográfico, o Garrett do poeta escreve-se assim mesmo, com dois tês…